segunda-feira, 31 de outubro de 2011

494 anos de Reforma protestante

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O mundo mudou completamente quando no dia 31 de Outubro de 1517 um monge destemido de nome Martinho Lutero prega na porta da catedral de Wittemberg as suas 95 teses denunciando doutrinas da igreja católica-romana. De início, Lutero apenas pretendia a reforma da citada instituição religiosa que personificava a religião estatal predominante. Embora a génese deste protesto tenha sido de cariz religioso, logo as forças políticas tiraram o devido partido e estimularam o movimento pela Europa especialmente nos países do centro e norte. O pensamento Renascentista, os abusos católico-romanos e a descoberta de novos mundos que proporcionaram uma visão civilizacional fora da esfera católica-romana deram o impulso desejado a este movimento. A ascensão de uma burguesia comerciante e a insatisfação das casas reais devido à intromissão papal nos assuntos de estado impeliram politicamente a Reforma no seu sentido mais secular.

domingo, 30 de outubro de 2011

O individualismo ameaça a igreja católica-romana

index2http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?&id=87944

Segundo esta notícia, a igreja católica-romana, esmagadoramente maioritária em Portugal, vê-se ameaçada pelo individualismo, imediatismo e tolerantismo. “O “individualismo”, “imediatismo” e “tolerantismo” constituem “grandes desafios” ao catolicismo em Portugal, afirmou esta sexta-feira o bispo do Porto numa conferência realizada na Fundação Inês de Castro, em Coimbra”. D. Manuel Clemente, o historiador e autor do artigo, afirma ainda que “a revisão constante de certezas adquiridas, a desconfiança pós-moderna em relação às pré e meta narrativas” e a “comercialização geral e publicitária dos gostos e comportamentos” contribuem para que o catolicismo sofra “uma erosão permanente”. Na sua opinião relativamente à tolerância, virtude cujo sentido primário se desvaneceu e cuja importância histórica tem sido corrompida ao ponto de não mais se poder chamar de tolerância, mas tolerantismo, ou abandono do campo, o autor dá-se conta de que o Cristianismo está profundamente refém do conceito pós-moderno do mundo cujo desfecho tem sido a erosão permanente não só da instituição religiosa que dá pelo nome de igreja católica-romana, mas do Cristianismo em geral.

Primeiramente cabe salientar que a igreja católica-romana sempre teve uma presença bastante vincada na sociedade lusa. Ela revela-se sempre através da História com uma hierarquia eclesiástica bastante confundida com a sociedade imperial, ou real, onde a diminuta classe dirigente gozava na igreja de um estatuto especial e favorecido face aos cidadãos das classes mais baixas. Esta promiscuidade é bem patente num passado recente através do triunvirato Salazar, Presidente da República e Cardeal Cerejeira. Falemos pois da intolerância respeitante aos livres-pensadores do séc. XVI que blindou a península Ibérica das transformações operadas pela Reforma em outros países da Europa: a liberdade moral, a elevação da classe média e a Indústria. Falemos desse absolutismo intolerante cristalizado no concilio de Trento que veio, tal como a instituição, a transformar e confundir o sentimento cristão na instituição católica. Falemos desse triunfo desta opinião absolutista que empederniu a igreja instituída na esperança de a solidificar e que constituiu “uma verdadeira calamidade para as nações católicas” (Antero de Quental). Falemos dessa tradição que, num símbolo terrivelmente expressivo, apresenta-nos Camões, o cantor das glórias passadas que nos empobreceram devido à centralização de recursos e riquezas, mendigando para sustentar a velhice triste e desalentada, a imagem da nação que esquece que Portugal, o Portugal das conquistas “cristãs”, é esse guerreiro altivo, nobre e fantástico, que voluntariamente arruína as suas propriedades para maior glória do seu idealismo poético-cristão.

O catolicismo absolutista gerava, inevitavelmente, o espírito aristocrático, com o seu cortejo de privilégios, de injustiças, com o predomínio das tendências guerreiras (leia-se prosélitas) sobre as industriais. A influência do espírito de intolerância absolutista e dogmático na sua doutrina falseada, nomeadamente na soteriológica, cria uma indiferença pela filosofia, pela ciência, pelos movimentos moral e social e mergulha a sociedade num sono anedótico, num torpor ridículo face às transformações num continente marcado pela Reforma e suas consequências.

A nossa fatalidade é a nossa História.

Todavia, e paradoxalmente, é este conservadorismo religioso que promove a hierarquia, a disciplina, a ordem que a autoridade se encarrega de assegurar, os dogmas que, de uma maneira firme, regulam a vida, a menina-dos-olhos dos homens dos séculos XVI e XVII cuja crença se baseia no direito divino, se bem que conforme os ditames da instituição religiosa reinante, que guarda o pensamento social do direito natural ditado pelos homens do Renascimento cujo o seu primeiro amor é o ódio pelo constrangimento, a autoridade, os dogmas e cuja linha de pensamento desembocará na adoração pelo Natural, pela tolerância universal, pelo Homem como ponto de aferição nas artes, ciência e letras, pela guerra à tradição e pelo sonho de uma era de paz, prosperidade e iluminação fundadas sobre a razão e a ciência. Neste momento a igreja católica-romana é apanhada na sua própria armadilha. Intolerante, produz intolerância; arrogante, produz arrogância. O homem pós-moderno ciente da sua liberdade, ainda que ilusória, parece ter consciência e permissão de tudo negar, de tudo intolerar, de tudo questionar. D. Manuel Clemente discerne um risco social, mas este risco não faria sentido numa sociedade tradicional, pois risco não é sinónimo de acaso ou perigo. O risco tem a ver com perigos calculados em função das probabilidades futuras. Apenas tem uso numa sociedade voltada para o futuro e implica a existência de uma sociedade ansiosa por se desligar do passado que é, na realidade, a primeira característica de uma sociedade industrial. Preso durante séculos à hegemonia católica-romana, Portugal tem-se libertado, por assim dizer, dos dogmas poeirentos e autoritárias do clero que tudo supervisiona, tudo controla. A emenda tornou-se pior que o soneto. Repentinamente, desligado do seu passado pela revolução dos cravos produzida por uma ideologia liberal de esquerda, ansiosamente à procura de uma Europa industrial e progressista, Portugal encontra-se na arena europeia sem, contudo, estar preparado para tal. Como um indivíduo há muito privado de alimento, este país sofregamente comeu de tudo o que lhe era oferecido, sem limites nem constrangimentos correndo o risco de morrer pela sua própria avidez. A matriz religiosa cristã cujos princípios ainda nos blindavam das investidas humanístico-liberais do demasiado livre-pensamento europeu desapareceu, foi vomitada em favor da “televivência”, do relativismo, da normalização do “mal”, da privatização social, da embriaguez do entretenimento. A igreja católica-romana tem razão em se inquietar.

Os tempos em que vivemos não são propícios nem para os católicos, nem para os evangélicos, nem para ninguém que ouse pronunciar o nome de Cristo ou Deus. De imediato os fantasmas passados da intolerância e autoritarismo dogmático ressurgem. O individualismo é, indubitavelmente, um dos maiores obstáculos à pregação e catecismo dos indivíduos. O individualismo, fruto da privatização dos usos e costumes numa democracia doente e passiva torna o indivíduo amorfo, invejoso e sempre inquieto continuamente promovendo a ideia própria, individual. Falta de debate (o português não é dado ao debate, à troca de ideias) raramente o individualista se dispõe a ouvir, quando ouve, e muito menos a aceitar argumentos que pela sua lógica e coerência poderiam ser no mínimo alvo de pesquisa e reflexão (o português também não aprecia muito este trabalho). “Sempre se fez assim”, é o refrão. “Eu penso assim, tu pensas assado, cada qual na sua” lembra-me um corinho da escola dominical cujo refrão era “Eu no meu cantinho e tu no teu”. Longe estaria eu de pensar que esse coro revelava mais do que eu estimava. O individualismo e a tolerância mal direccionada têm feito muitos estragos na Igreja Evangélica em Portugal. Raramente nos incomodamos com a saúde espiritual do próximo (alegamos que não nos diz respeito), assim como não admitimos que não se preocupem com a nossa (apenas quando andamos “mal”, pois quando achamos que andamos bem somos os primeiros a autopromovê-la…). Raro e o responsável cristão que se arrisca a queimar as vestes para salvar alguém do fogo. A Igreja evangélica vive num torpor religioso onde o importante não é o pecado, mas que os outros saibam que se peca. O sentimentalismo conquistou o púlpito, o lugar mais importante numa igreja, o louvor passou a disciplina obrigatória ao invés da pregação e o entretenimento substituiu o tempo de oração e adoração. O individualismo fez com que mais nada me importe do que a minha pequenina pessoazinha mesquinha e egoísta. Proclama-se a moral de Deus sem o Deus da moral como se os grandes pecados mortais fossem o fumar e o beber (coisas que se vêem) e não o interior moralmente depravado do ser humano que gera toda a espécie de concupiscência e que nos tende a adorar a criatura ao invés do seu Criador.

Quando, pela sua Palavra pregada com poder, o Espírito Santo agir nas consciências dos indivíduos então não teremos mais nada a temer do individualismo, nem do pós-modernismo, nem do relativismo. Mas nessa altura o D. Manuel Clemente terá uma razão mais válida para se inquietar, pois Roma cairá.

Ecclesia semperreformanda est

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Relativismo - Conclusão

Finalmente - e o mais importante de tudo -, a conclusão. Qual é a causa e qual é a cura para o relativismo moral? A origem do relativismo moral não é um argumento e, portanto, a sua cura não será uma refutação de um argumento. Nem a Filosofia, nem a ciência, nem a lógica, nem o senso comum, nem experiência alguma vez refutaram o absolutismo moral tradicional. Não é a razão, mas a abdicação da razão que está na origem do relativismo moral. Relativismo não é racional, apenas é racionalização. Não é a conclusão de um argumento racional. É a racionalização de uma acção prévia. É o repudiar do princípio segundo o qual as paixões devem ser avaliadas pela razão e controladas pela vontade. Aquela virtude a que Platão e Aristóteles chamavam autocontrolo. Não é uma das chamadas virtudes cardeais, mas um ingrediente necessário em cada virtude. Esta suposição clássica é quase a definição de civilização. Mas os românticos, existencialistas, Freudianos e muitos outros convenceram muita gente na nossa cultura que o absolutismo moral é opressivo e insalubre. Se abraçarmos o princípio oposto e deixarmos que a paixão governe a razão, em vez de que a razão oriente a paixão, há pouca esperança de moralidade ou de civilização.

Obviamente, a coisa mais possante e atraente das paixões são as de carácter sexual. São, portanto, também as mais viciantes e densas. Assim, dificilmente poderia haver um enfraquecimento mais poderoso do nosso conhecimento e vida moral do que a revolução sexual. Já a procura de liberdade sexual tem substituído um dos instintos mais fortes da natureza: a maternidade. Milhões de mães contratam anualmente os serviços de assassinos profissionais legais, chamados médicos ou enfermeiros, a fim de matar os seus próprios bebés por nascer. Apenas é possível pelo impulso fundado em motivos sexuais que é dado ao aborto. Pois o aborto é o controlo dos nascimentos e o controlo da natalidade é a exigência para ter relações sexuais sem ter bebés. É o desfrutar do pecado sem acartar com as suas consequências. Temos saudades da cegonha que trazia os bebés de Paris e que foi substituída por um controle de natalidade apresentado em Powerpoint.

O divórcio é um segundo exemplo do poder da revolução sexual que mina os princípios morais fundamentais. Suponha que haja alguma prática, não relacionada com o sexo, a qual teria os seguintes resultados documentados: em primeiro lugar, traindo a pessoa que você alega mais amar, a pessoa a quem você tinha prometido sua vida, traindo sua promessa solene; em segundo lugar, o abuso moral dos filhos que criou e prometeu proteger, criando cicatrizes mais infinitamente profundas nas suas almas que qualquer outra coisa excepto o directo e violento abuso físico, tornando-se muito mais difícil para eles o alcançar vidas felizes ou casamentos; em terceiro lugar, prejudicar, minar e destruir provavelmente a sociedade futura. Esta prática não deveria ser universalmente condenada? No entanto, é exactamente isto o que o divórcio é e é universalmente aceite. É curioso que a traição é geralmente condenada a menos que essa mesma traição seja de índole sexual! A Justiça, a honestidade, o não prejudicar ninguém, são sempre princípios morais universalmente aceites, a menos que interfiram com o sexo.

O resto da moralidade tradicional ainda é amplamente admitida e ensinada mesmo em séries da TV, telenovelas e filmes de Hollywood. A força motriz do relativismo moral parece ser quase exclusivamente de ordem sexual. O “porque deve ser” e o que nós devemos fazer sobre isso são duas outras questões que exigem muito mais tempo e reflexão. Mas se você quiser uma curta suposição numa resposta a ambas, esta é a melhor conclusão. Penso que um secularista apenas deixou um substituto de Deus, apenas uma experiência num mundo dessacralizado que ainda lhe dá algo como a emoção mística, uma vibração auto-transcendente do êxtase para a qual Deus criou todas as almas. A menos que ele seja um surfista ou um drogado, essa experiência tem que ser o sexo. Nós fomos concebidos para algo mais que a felicidade; estamos destinados à alegria. Tomás de Aquino escreve com lógica simples, "o Homem não pode viver sem alegria. Alguém privado das verdadeiras alegrias espirituais tem de se compensar com os prazeres carnais".

Drogas e álcool são atraentes, porque eles declaram alimentar a mesma necessidade. Faltando-lhes, porém, a grandeza ontológica do sexo, eles fornecem a mesma emoção semi-mística: a transcendência da razão e consciência de si mesmo. A afirmação não é referida como condenação moral, mas como análise psicológica. Na verdade, e embora possam parecer chocantes, o viciado está mais próximo da profundeza da Verdade que o mero moralista. Ele está olhando para o melhor da coisa em alguns dos piores lugares. A exigência de um psíquico no qual ele transcenda a moralidade é muito errado, mas simultaneamente muito correcto. Porque fomos projectados para algo além da moralidade, algo em que moralidade será transformada: a união mística com Cristo. O sexo é apenas a prefigura. Os absolutistas morais jamais esquecem que a moralidade, embora absoluta, não é definitiva. Não é o nossa Summum Bonum. O Sinai não é a terra prometida; é Jerusalém. E na nova Jerusalém, o que finalmente acontece como último capítulo da história da humanidade, é um casamento entre o Cordeiro e sua noiva. Privado desta Jerusalém, tem de se comprar na Babilónia. Se nós não adoramos a Deus, adoramos os ídolos, mesmo que esse ídolo se possa revestir da imagem de Deus, pois somos por adoradores da natureza.

Finalmente, qual é a cura? Ela tem de ser um remédio mais forte do que a filosofia. Assim, em três palavras, a resposta a esta última e também mais prática questão. O que podemos fazer em relação a isso? Qual é a cura? Essas três palavras são totalmente banais. Elas não são um argumento filosófico, mas exigências bíblicas de Deus: arrependimento, Palavra de Deus e oração. Confissão, santidade, adoração. Não há nenhuma outra resposta e não se pode pensar em mais nada para salvar esta civilização a não ser na Igreja e seus Santos a proclamarem a Palavra da Verdade. Descrição: http://www.microsofttranslator.com/static/img/tooltip_logo.gif?156769Descrição: http://www.microsofttranslator.com/static/img/tooltip_close.gif?156769

(Adaptado)
Original
Neither philosophy nor science nor logic nor common sense nor experience have ever refuted traditional moral absolutism.

domingo, 23 de outubro de 2011

Relativismo 11 - Pelo absolutismo moral: a linguagem moral

Em quinto lugar, temos o argumento da linguagem moral. Este argumento é bastante óbvio e é usado por C. S. Lewis no início do seu livro “Mere Christianity”. É baseado na observação do que as pessoas falam. Elas não se limitam a batalhar, elas falam sobre o certo e o errado. Isto é, elas agem como se acreditassem no objectivamente real e nos princípios morais universalmente vinculadores. Se apenas desejos subjectivos e paixões humanas estivessem envolvidos, tratar-se-ia meramente de uma competição de força entre pessoas, ou somente de paixões concorrentes dentro de uma pessoa. Se estou com mais com fome do que cansado, eu vou comer, se estou mais cansado do que faminto, vou dormir. Mas nós dizemos coisas como: "Isso não é justo”, ou, "que tem a ver com isso?" Se o relativismo fosse verdadeiro, o argumento moral seria tão estúpido quanto o seria discutir sobre sentimentos: "sinto-me óptimo" ou "não, sinto-me mal".

Na verdade, a linguagem moral que todos nós usamos diariamente - linguagem que elogia, culpa, aconselha ou comanda -, seria estritamente inútil e sem sentido se o relativismo fosse verdade. Nós não elogiamos ou culpamos agentes não-morais como, por exemplo, as máquinas. Quando a máquina automática dos sumos em lata rouba o nosso dinheiro sem entregar uma lata de sumo, não podemos argumentar com ela, chamá-la pecadora, ou dizer-lhe para se ir confessar. Nós pontapeamo-la. Assim, quando alguns dos nossos psicólogos nos dizem que somos apenas máquinas muito complexas eles estão apenas afirmando que a moralidade é apenas um pontapé muito complexo. Isso é tão absurdo que nem sequer merece um debate. Penso que isto apenas merece uns pontapés, o que é, nem mais nem menos, praticar o que pregam: pontapear, mas de forma honesta. O argumento é simples: a linguagem moral é significativa, não existe sem sentido. Todos nós sabemos disso. Sabemos como usá-la e praticamo-la. O relativismo não pode explicar este facto.

sábado, 22 de outubro de 2011

Relativismo 10 - Argumento AD Hominem

Em quarto lugar, temos o argumento ad hominem. Mesmo os relativistas reagem sempre com um protesto moral quando são tratado imoralmente. O homem que apela para o princípio relativista de "eu tenho que ser eu", que justifica quebrar sua promessa de fidelidade à sua própria esposa ao deixá-la por outra mulher, quebra a sua fidelidade ao seu próprio princípio relativista, quando sua nova esposa usa esse mesmo princípio para justificar o acto de o deixar por outro homem, quando o seu argumento se volta contra ele. Isto não é excepcional, mas típico. Parece que a origem do relativismo releva mais da ordem pessoal do que filosófica. Tem a ver mais com a hipocrisia que com a hipótese. 

A contradição entre teoria e prática é evidente, mesmo no acto relativista do ensino do relativismo. Porque é que os relativistas ensinam e escrevem? Para convencer o mundo que o relativismo é certo e o absolutismo errado? Certamente certo e realmente errado? Se assim for, então existe um realmente “certo” e um realmente “errado”. Qual o padrão de juízo? E assim não for, então não há nada de errado em ser um absolutista, e nada certo em ser um relativista. Então porque é que os relativistas escrevem e ensinam? Realmente, tendo em conta todos os seus esforços em pregarem o seu evangelho para livrar a humanidade das falsas e tolas repressões do absolutismo, poder-se-ia pensar que eles realmente acreditam neste seu evangelho dogmaticamente relativo.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Relativismo 9 - Pelo absolutismo moral, a experiência moral.

Em terceiro lugar, existe o argumento da experiência moral. Este é o argumento mais forte e mais simples, creio eu, para o absolutismo moral. Na verdade, ele é tão forte que parece uma encargo forçado e não natural o facto de o tentar configurar em forma de argumento - é mais correcto considerá-lo como um dado primário, ou adquirido. A primeira e fundamental experiência moral é sempre absolutista. Só mais tarde na vida do indivíduo, ou da sociedade, a sua sofisticação sugere o relativismo moral. Cada um de nós lembra-se da primeira experiência da infância do sentir-se moralmente obrigado. De esbarrar contra uma inabalável muralha moral. Esta memória está consagrada nas palavras "deve", "não deve", "certo" e "errado".

Toda e qualquer pessoa tema experiência da obrigação moral.

O absolutismo moral é, claramente, baseado na experiência. Por exemplo, digamos que você prometeu ontem à noite ao seu amigo que iria ajudá-los às 8H00 desta manhã. Vamos supor que ele tem que fazer mudanças na casa antes do meio dia. Todavia, você foi para casa às 03H00 da noite. E quando o despertador toca às 7H00, você está cansadíssimo. Você pode experimentar duas coisas: o desejo de dormir, e a obrigação de se levantar. Os dois são genericamente diferentes. Pode não sentir alguma obrigação de dormir, e nenhum desejo de se levantar. É levado, de certa maneira, pelo seu próprio desejo de dormir, e igualmente levado de uma maneira muito diferente, por aquilo que você acha que deveria fazer. Seus sentimentos aparecem de dentro para fora, por assim dizer, enquanto que a sua consciência é advertida de fora para dentro. Dentro de você reside o desejo de dormir, e isso pode levá-lo à acção externa de desligar o alarme e rastejar de volta para a cama, o errado. Mas, se se levantar para cumprir a sua promessa que fez ao seu amigo é porque você optou por responder a uma coisa de um tipo diferente: a qualidade moral percebida do acto de cumprir sua promessa, ao contrário da qualidade moral percebida do acto de se recusar a cumpri-la. O que você percebe como certo, ou obrigatório – levantar-se da cama – vem de fora, de um acto externo a você, da natureza do próprio acto. Mas o desejo que o seduz nesse momento - voltar a dormir - vem de dentro de você, da sua pessoa, da sua própria natureza. A obrigação moral move o indivíduo como um causa final, um fim em si mesmo, a partir de cima e para frente, por assim dizer. Os seus desejos movem-no como uma fonte, como uma causa eficiente, a partir de baixo, ou para trás, por assim dizer.

A experiência moral fundamental consiste em dados primários, adquiridos. Pode ser negada, mas apenas como algumas filosofias estranhas podem negar a realidade imediatamente percebida pelos nossos sentidos. O relativismo moral é para a experiência moral o que o ensino da Ciência Cristã é para a experiência da dor, doença e morte. Dizem-nos que estas experiências são ilusões que devem ser superadas pela fé. Assim, o absolutismo moral é empírico, enquanto que o relativismo moral não é mais nem menos que um dogma de fé.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Relativismo 8 - A Tradição

Em segundo lugar a favor do absolutismo, o argumento da tradição. Este argumento deve apelar para os igualitaristas que se defendem contra o absolutismo, porque seria, de alguma forma, relacionado com o snobismo. É exactamente o oposto. O absolutismo é moralidade tradicional e a tradição é o igualitarismo estendido na história.

O absolutismo é a norma na História da humanidade

Para ser um relativista, você tem de ser snob, pelo menos sobre este assunto de importância central. Para aderir a uma pequena minoria quase totalmente concentrada numa única cultura: o Ocidente moderno, ou seja, branco, democrático, industrializado, urbanizado, com formação universitária, secularizado, apóstata, resumindo, a sociedade pós-cristã. Para ser relativista, você deve acreditar que quase todos os seres humanos na História tiveram de ordenar a sua vida por uma ilusão. Mesmo sociedades como a nossa, que são dominadas por especialistas de opinião popular relativista, ainda tendem para o absolutismo moral. Tal como os comunistas, os relativistas fingem ser o partido do povo, quando na verdade desprezam a filosofia dos povos. Na verdade, há uma geração atrás, uma minoria de elitistas relativistas que ganharam o poder dos meios de comunicação têm implacavelmente imposto o relativismo elitista na opinião popular, acusando a opinião popular, isto é, o elitismo da moralidade tradicional.

domingo, 16 de outubro de 2011

Relativismo 7 - Consequências e defesa do absolutismo

Primeiro, o argumento pragmático das consequências. Se o relativista argumenta contra o absolutismo pelas suas supostas consequências, a intolerância, pode-se argumentar contra o relativismo pelas suas consequências reais. Consequências são, pelo menos, um indicador relativo. Elas são pistas. Boa moralidade deve produzir boas consequências e má moralidade, más consequências. Bem, é bastante óbvio que a principal consequência do relativismo moral é a remoção de impedimentos morais. Assim como as consequências de "fazer a coisa certa" é fazer a coisa certa, assim as consequências de "se se sente bem, fá-lo" é fazer o que nos agrada. Não é preciso ter um doutoramento para chegar a esta conclusão. Na verdade, às vezes dá-me a impressão que será preciso um doutoramento para não a discernir.

Todos os actos e atitudes imorais, com a possível excepção de inveja, são agradáveis. Segundo o velho ditado “Ou faz mal ou é pecado”. Essa é a principal razão para praticá-las. Se o pecado não parecesse ser divertido, todos nós seríamos santos. O relativismo nunca produziu um santo. Essa é a refutação pragmática aos relativistas. O mesmo vale para as sociedades. O relativismo nunca produziu uma boa sociedade, apenas más. Compare a estabilidade, longevidade e felicidade das sociedades assentes nos princípios da moral relativista como as de Mussolini ou Mao Tse Tung, com as sociedades fundadas em princípios da moral absolutistas como Moisés ou mesmo Confúcio. Uma sociedade de relativismo moral dura, em geral, uma geração. Os mil anos do Reich de Hitler não duraram muito tempo.
Esta citação deveria ser conhecida por todos os tribunais, governos e povos:

Tudo o que tenho dito e feito nestes últimos anos é o relativismo, por intuição. O facto de que todas as ideologias são de igual valor, que todas as ideologias são meras ficções, o relativista moderno infere que todos têm o direito de criar para si mesmos a sua própria ideologia e tentar impô-la com toda a energia de que for capaz . Se o relativismo significa desprezo por categorias fixas e peos homens que se dizem portadores de uma verdade objectiva e imortal, então não há nada mais relativista do que o fascismo - Benito Mussolini

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Resposta a um nosso leitor sobre a questão da existência do inferno.


NOTA: Transcrevemos na íntegra o mail recebido de F. S. sendo a nossa argumentação apresentada a negrito.

Veja o que a doutrina da existência de um inferno de fogo causa aos que observam do lado de fora o cristianismo:

- Não é novidade nenhuma que a doutrina da existência de um inferno de fogo tenha, ao longo dos tempos, causado as mais variadas reacções naqueles que a conhecem ou que, simplesmente, a ouvem. Não é também novidade que tanto dentro como fora do cristianismo exista uma certa aversão a tudo o que diga respeito a condenação vindoura. Vivemos cada vez mais numa "sociedade asséptica" onde toda e qualquer noção de sofrimento é vista como reprovável, absurda, mesmo condenável. Neste caso não hesitamos em estabelecer a mesma medida que condenamos, isto é, condenamos os que advogam a doutrina da condenação. Este estado de espírito não somente reina fora do cristianismo como também, infelizmente, dentro dele. Vários sectores da igreja instituída já não hesitam unicamente em negar a existência do inferno, como também vão mais longe ao afirmar que, no fim dos tempos, todos serão igualmente salvos independentemente do que tenham feito em vida.

O INFERNO EXISTE?
F. S.

        A Igreja Católica passou 2000 anos descrevendo o inferno como um lugar cheio de fogo e tortura. Os protestantes ainda se apegam a essa ideia e é assim que ele foi mostrado aos pastores de Fátima durante uma das supostas aparições da Virgem. Agora a Igreja diz que o sofrimento é apenas a ausência de Deus, o arrependimento por se ter escolhido a opção errada. Não uma condenação, mas uma escolha individual.

Resposta:

Em relação ao inferno, a Igreja ao longo dos tempos só tem afirmado o que os documentos que servem de autoridade em matéria de fé (a Bíblia) afirmam acerca dele (Marcos 9.43; Mateus 8.12, 14.42, 50; Isaías 33.14; Apocalipse 20.15; etc...). Se a Igreja não o fizesse, então qual seria o padrão segundo o qual ela apresentaria a sua doutrina? Se ela apenas apresentasse partes da Bíblia como autoridade, então porque pregar a salvação, o amor de Deus, ou mesmo o paraíso. Ou aceitamos tudo ou não aceitamos nada. Não podemos é aceitar só o que nos interessa. Devemos também denunciar que a autoridade da Igreja só é aceitável enquanto Ela está submissa à autoridade da Palavra de Deus. Infelizmente nem sempre isso aconteceu. Pecado é o que a Bíblia diz que é pecado, não a Igreja; inferno é o que a Bíblia diz que é inferno, não a Igreja. Se a Igreja diz que o inferno é apenas a ausência de Deus, então o mundo é o inferno, ou seja, o inferno é aqui e agora, o que contraria o que as Escrituras descrevem como sendo o inferno. O inferno é a condenação resultante de uma escolha individual. Ninguém escolhe directamente o inferno. Simplesmente ao rejeitarem Deus, os indivíduos estão, indirectamente, a escolher o inferno. Ninguém escolhe directamente ter um cancro do pulmão. Mas ao decidir acender um cigarro estou, indirectamente, a escolher ter mais probabilidades de o contrair. Este é o castigo de uma acção tomada livre e espontaneamente, pois poderia ter escolhido o seu contrário.

        Se só ao chegar lá os pecadores vão realmente entender que estavam errados, como afirmar que a escolha foi consciente e informada? Pelo contrário, em Lucas 16:19-31 conta-se a parábola do rico no inferno que pede que seus irmãos ainda vivos sejam sejam avisados do que lhe aconteceu para que não acabem como ele, o que lhe é negado. A explicação, ridícula, é a de que, se não acreditaram em Abraão e nos profetas, também não vão acreditar se os mortos lhes aparecerem (por que não?!). Conclui-se que seus irmãos não sabiam do risco que corriam (mesmo porque, para os judeus, a noção de céu e inferno era um tanto confusa). E não é permitido ajudá-los. Deixem que se danem.

        Note-se que o condenado tinha bom coração. Ele poderia perfeitamente desejar que seus irmãos sofressem também. Outro absurdo é que Lázaro, o pobre, foi para o céu após uma vida de sofrimento enquanto que o rico foi para o inferno após uma vida de prazeres. Em outras palavras, por um instante de sofrimento, uma eternidade no céu e, por um instante de prazer, uma eternidade no inferno. Uma punição infinitamente desproporcional por uma falta cometida por quem não tinha total consciência de seus actos. E uma recompensa também desproporcional por uma vida de sofrimentos não necessariamente escolhida pelo sofredor e sim imposta a ele.

         O castigo eterno é uma punição grande demais para faltas tão pequenas. Como podem leis absolutas ser aplicadas a seres finitos, limitados e nem um pouco absolutos como nós? Se Lúcifer, um ser de luz, um puro espírito, face a face com Deus, pôde errar, por que simples criaturas materiais devem ser tratadas do mesmo modo que ele? Onde está nosso livre arbítrio se nosso espírito está aprisionado nesta carcaça de carne, numa luta constante contra o apodrecimento? Se nossa visão das coisas é limitada pelos nossos sentidos limitados e nossos instintos animais? Se uma decisão inabalável pode ser destruída por uma enxaqueca ou uma diarreia?

Resposta:

Não creio que os pecadores só vão realizar que estavam errados quando chegarem ao inferno. A Bíblia diz-nos o contrário. Ela diz-nos que a rejeição de Deus é deliberada e consciente e rejeitar Deus é rejeitar o que Ele diz; e o que Ele diz é a sua Lei. Segundo a epístola aos Romanos (capítulo 2, versículos 13 a 15), os que nunca ouviram falar do Evangelho (denominados gentios) são culpados - menos do que os que o conhecem - pelo facto de possuírem a norma da Lei divina inscrita tanto nos seus corações, como nas suas consciências, como nas suas mentes. Tudo o que compõe o ser humano (afectos, mente, consciência) faz prova da Lei de Deus, pois o ser humano foi criado à sua imagem. Daí que, embora imperfeitamente, o Homem tenha uma certa noção do que o bom e o mau, do que está certo e errado. Instintivamente o ser humano - como ser moral - sabe que existem certas acções tomadas que não são as mais correctas. Mesmo as crianças se apercebem disso. Isto não faria sentido nenhum se o Homem não possuísse uma certa noção de certo e errado. Toda a Natureza é regida por leis. O ser humano é também regido por elas. Mas devemos fazer uma distinção entre a lei da natureza e a lei da natureza humana. Da mesma maneira que os corpos são governados pela lei da gravidade e do crescimento, assim a natureza humana é governada por outra lei, a lei da natureza humana - com a diferença de que os corpos não podem nunca contrariar por si mesmos se hão de cair ou crescer, mas a natureza humana pode escolher se obedece ou não. Como um organismo, o ser humano está sujeito a leis biológicas que, como os animais, não pode desobedecer. Isto é, não pode desobedecer a leis que são igualmente compartilhadas por outros seres. Todavia, a lei que é peculiar ao ser humano, a lei que não é compartilhada por outros seres vivos, animais ou vegetais, é precisamente aquela que ele pode desobedecer se quiser (este argumento só é válido se considerarmos o ser humano algo mais que um animal). Também devemos considerar que se o próprio Filho de Deus apresentou a mensagem e foi crucificado por aqueles que uma semana antes o proclamavam como rei, porque é que, se os mortos aparecessem para pregar o Evangelho, seriam eles mais credíveis. Não colocaríamos estas aparições na mesma gaveta de ilusões em que colocamos a noção de milagres?

Por outro lado não concordo que o rico protagonista na parábola de Jesus tivesse tão bom coração como isso. Se lermos com atenção a passagem em questão Jesus refere  que o pobre Lázaro jazia à porta de um rico que vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Que bom coração é este que não atende às necessidades do seu próximo? Devemos tomar também em atenção o género literário em questão. Jesus contava uma parábola, uma história fictícia para veicular uma lição, uma verdade. Se eu contar uma história começada por "No tempo em que os animais falavam..." afim de transmitir uma lição moral (como o fez Essopo), seria desonesto não a aceitar sob o pretexto de que os animais nunca falaram, logo, a história, ou a sua conclusão, não pode ser verdadeira. Devemos atentar também para o facto de que Jesus contou esta história após a troça dos Judeus que demonstravam ser avarentos (verso 14) e arrogantes (verso 15) advertindo-os para o facto de que não é o dinheiro que é a raiz de todos os males, mas o amor pelo dinheiro. Além do mais, os irmãos do rico sabiam o risco que corriam, não somente pelo que Jesus afirma no verso 16, mas também pelo argumento apresentado no parágrafo anterior. Quanto à condenação infinita por pecados finitos creio que o problema reside na noção que temos de pecado. Pecado não é somente o mal que comentemos em relação a seres finitos, mas, muito mais que isso, é a desobediência a um ser infinito. Assim como uma infinita compaixão concede felicidade infinita, uma justiça infinita demanda um castigo infinito. Como uma conversão confinada no espaço e no tempo - logo finita - é recompensada com uma felicidade infinita, assim um pecado confinado no espaço e no tempo - logo finito - é castigado com uma punição infinita. Isto porque o Ser que as atribui é Ele mesmo infinito. A nossa dúvida provém da capacidade finita de compreender o infinito.

       O mundo que a Igreja descreve é como uma arena onde somos jogados para lutar contra os leões, mas com armas limitadas e contra a nossa vontade. Obrigados a participar de um jogo mortal, com regras injustas, obscuras e mutáveis e que nos foram impostas. E ainda temos que louvar o promotor do jogo. Kafka não faria melhor.

      Um livre arbítrio bem entendido deveria começar pela escolha entre nascer ou não, receber este "presente" do "amor" de Deus ou escapar dele, de uma vida de sofrimentos que talvez seja seguida de uma tortura eterna que nós "escolhemos por vontade própria".

      Em que medida uma criança é responsável pela educação que recebe e pelo meio social e familiar em que é criada, o que vai determinar que tipo de adulto será mais tarde? Que grau de responsabilidade tem ela por estes factores que não estão sob seu controle? Mesmo que lhe falem de céu e inferno, será que ela está em condições de entender, qualquer que tenha sido sua educação? Será que lhe apresentam provas tão convincentes que ela não possa alegar que não viu motivos para crer?

      O livre arbítrio é, na verdade, a possibilidade que Deus nos deu de irmos para o Inferno. Um pai que realmente ama seus filhos não apenas os alerta sobre o perigo mas também acaba com ele. Um pai amoroso não cria novos perigos propositadamente.

Resposta:

A conclusão de uma descrição é sempre dependente dos nossos preconceitos e compreensão. Isso aconteceu com Jesus que dividiu o povo. Para uns era um homem bom; para outros era um blasfemo e desordeiro. Segundo o velho adágio "Se o teu filho tem fome, não lhe dês um peixe, mas uma cana de pesca", é muito mais amoroso prepará-lo e dar-lhe a oportunidade de aprender a lutar do que lhe satisfazer uma necessidade imediata. Seria muito ingrato da parte do filho reclamar com o seu pai porque o pôs no jogo da vida, ou que lhe foi imposto o esforço da luta. Quando a criança crescer e compreender o amor do seu pai, ela vai-lhe agradecer o ter-lhe dado a oportunidade de viver e lutar pela sua felicidade. Se moralmente não crescer, vai constantemente culpar o seu progenitor e lamentar o dia do seu nascimento. Assim aconteceu com Jó (Livro de Jó 3.1-3) até que compreendeu que Deus lhe queria ensinar algo (Jó 42.5). Assim é na arena da vida. Enquanto não compreendermos o amor de Deus vê-lo-emos como um ser terrível, cruel e vingativo.
O presente de Deus não é um presente envenenado, pois só os vivos poderão poderão compreendê-lo. Quanto ao livre arbítrio convém esclarecer que o homem só é livre dentro dos limites da sua própria natureza. É uma conclusão lógica do argumento que visa escapar ao juízo infinito visto que somos finitos. Se aceita que somos finitos, terá igualmente aceitar que a sua liberdade também o é. De outra maneira seríamos como Deus (é este o pecado original, querer ser como Deus), completamente livres e autónomos. Um leão tem a capacidade física de comer vegetais e, todavia, não o faz. Porquê? Porque não é a sua natureza. Ele é carnívoro. Só quer carne, apesar de poder escolher e ter a capacidade de ingerir vegetais. Assim é o ser humano: livre dentro dos limites da sua própria natureza. Ele gosta da natureza do pecado (cobiça, egoísmo, glutonaria, luxúria, dinheiro, amor-próprio) sem gostar dos seus frutos (condenação, inferno, morte); não gosta da natureza de Deus (santidade, obediência), mas gosta dos seus frutos (amor, paz, felicidade, paraíso). Como seres naturalmente inclinados a satisfazer a nossa sede de pecado (pecado é aquilo que a Bíblia diz ser pecado, independência de Deus, e não propriamente tudo aquilo que a Igreja afirma ser), tentamos ter "uma no papo e outra no saco". Fazermos o que nos apetece, sem querer prestar contas a ninguém. Como nas uniões de facto: ter o prazer de um casamento, sem assumirmos as suas responsabilidades. A "tortura eterna" não é uma escolha directa, mas uma consequência directa de actos deliberados contra Deus.

Não somos responsáveis pelas influências que sofremos, mas pelas decisões que tomamos. Num sentido prático, vemos famílias onde os filhos tiveram a mesma educação em que uns seguiram um caminho e outros outro. Uns tomaram uma decisão e outros outra completamente diferente. A tentação moderna é precisamente a "tentação da inocência" (Pascal Bruckner). Nada é mais difícil do que ser livre, mestre e criador do seu próprio destino. Nada é mais esmagador do que a responsabilidade que nos acorrenta às consequências dos nossos actos. Como desfrutar da independência esquivando-nos dos nossos deveres? Através de duas escapatórias: o infantilismo e a vitimização, essas doenças do indivíduo contemporâneo. Por um lado o adulto, estragado pela sociedade de consumo, querendo guardar os privilégios da infância residindo num estado de divertimento permanente. Por outro lado o mártir, mesmo que não sofra de nenhum mal a não ser o de existir. O culto do maldito no conforto. O indivíduo contemporâneo excessivamente preocupado com a sua independência, mas que reclama, simultaneamente cuidados e assistência. Daí a exigência moderna de evacuar das consciências todas as referências a inferno e condenação e, tal como Adão, culpar Deus pela existência dos factores que nos levam à desobediência: " a mulher que me deste fez-me pecar". 

                Suponhamos que o inferno exista. Uma pessoa só pode ir para lá se decidir, de livre e espontânea vontade, cometer actos que ela sabe, de plena consciência, que vão levá-la ao castigo eterno. Quem tomaria tal decisão, sabendo de todas as consequências de seus actos? Mesmo que alguém afirme: "Eu quero ir para o inferno!", não podemos acreditar em que esta pessoa saiba do que está falando. Para que sua escolha fosse válida, ela teria que ser levada ao inferno, ver e sentir o que significa ir para lá e só então decidir. Entretanto, tudo o que temos são lendas para assustar os crédulos.

        A Igreja afirma que a escolha é nossa, que somos nós que decidimos e não Deus; isto é uma ofensa à nossa (ainda que limitada) inteligência. Admitir a existência do inferno significa admitir que o Deus infinitamente misericordioso é também infinitamente vingativo.

Resposta:

Quantos vivem na luxúria sabendo qual pode ser a consequência dos seus actos? Não posso igualmente estar de acordo com aqueles que processam as tabaqueiras por estas não advertirem explicitamente que o tabaco pode matar e causar doenças. E mesmo perante esse facto, as pessoas continuam a fumar. Porque seria diferente com o inferno? Também afirmar a existência do inferno significa admitir um Deus infinitamente justo. A vingança de Deus não deve ser compreendida segundo os padrões humanos em que a vingança é má. Geralmente porque se prende com motivos egoístas. Vingança é simplesmente retribuição. Também Deus não perde a cabeça quando se zanga. Daí o admitir a ira de Deus: santa, sem pecado. No entanto, um Deus infinitamente vingativo é também infinitamente amoroso. Ele não precisa da humanidade para nada, pois é perfeito e auto-suficiente. Deus não sofre de falta de afecto. Mas mesmo assim, decidiu dar-nos a hipótese da reconciliação. Se eu pudesse saber o que realmente constitui o inferno, teria que lá ter estado. Mas assim, a história de Jesus do rico e de Lázaro não mais faria sentido. Uma das conclusões é que as barreiras que separam o inferno do paraíso e da esfera terrestres são intransponíveis. Dizer que Deus é injusto por não nos deixar experimentar para ver é o mesmo que dizer que os nossos pais são injustos quando fazem tudo para nos livrar da droga sem que a experimentemos. No entanto, temos bastante informação disponível. Assim é com o inferno: temos toda a documentação disponível. Não seria bom de um Deus amoroso não nos prevenir de tal facto.

        Algumas citações:

        "Qual é o propósito de um castigo eterno depois do fim do mundo? Se não serve para recuperar os pecadores ou como advertência para os demais, trata-se de simples vingança e é moralmente incorrecto"(1)

        "Nosso tempo de vida é limitado e nós somos limitados, o que limita a quantidade de pecados que podemos cometer. Mas o castigo do inferno é infinito, o que o torna infinitamente injusto" (2)

        "Deus diz: "Faça o que você quiser mas, se escolher errado, você será torturado no inferno por toda a eternidade". Isto não é liberdade de escolha. Equivale a um homem que diz a sua namorada: "Faça o que você quiser mas, se escolher me deixar, eu vou atrás de você e estouro seus miolos". Quando um homem diz isto, nós o chamamos de psicopata e exigimos sua prisão. Quando Deus diz isto, nós dizemos que ele nos ama e construímos igrejas em seu louvor" (3)

        "Acredite em Jesus sem provas e evidências ou seja torturado eternamente. Ameaças em lugar de argumentos. Os homens inteligentes são os pecadores e os crédulos, os santos. O inferno é o lugar para onde os covardes enviam os heróis" (4)

        Diz a Bíblia: Marcos 16:15-16: "Então Jesus disse-lhes: "Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade. Quem acreditar e for baptizado, será salvo. Quem não acreditar, será condenado". João 15:06: "Quem não fica unido a mim será jogado fora como um ramo, e secará. Esses ramos são ajuntados, jogados no fogo e queimados." Mensagem: acredite sem questionar ou queime no inferno para sempre. Isto são Boas Novas ou o decreto de um tirano?

        Se Jesus manda perdoar os inimigos e oferecer a outra face, como ele poderia condenar ao castigo eterno alguém que honestamente não viu motivos para acreditar nele? O que ele responderia se isto lhe fosse perguntado pelo penitente na hora do Juízo Final? Ou ele não é obrigado a seguir seus próprios mandamentos?

        Muitos crentes se dizem "salvos" porque "aceitaram Jesus como seu salvador" e acham que não precisam fazer mais nada, já que eles se agarram ao Evangelho segundo João, que diz que o importante é a fé e não as boas obras, que os ateus irão para o inferno por mais virtuosos que sejam. Boa parte dos crentes parece considerar o Juízo Final como o momento da vingança, o momento em que serão glorificados diante de todos e irão para o céu enquanto a escumalha, os descrentes, os infiéis, serão jogados no inferno. Os católicos também já foram assim, como se vê por estas duas citações:

        "Para que os santos possam desfrutar de sua beatitude e da graça de Deus mais abundantemente, lhes é permitido ver o sofrimento dos condenados no inferno" (5)

        "Ah, que cena magnífica! Como eu vou rir e ser feliz e exultar quando eu vir esses filósofos tão sábios, que ensinam que os deuses são indiferentes e que os homens não tem alma, assando e torrando diante de seus discípulos no inferno" (6)

        Outros crentes dizem que não há desculpa para quem não quer "aceitar Jesus", já que a Bíblia está ao alcance de todos e as igrejas estão por toda a parte, de portas abertas. Dizem que têm pena dos que serão condenados mas que é a escolha deles. E que os milhões de descrentes terão uma surpresa muito desagradável no final dos tempos. Por mais que digam o contrário, a impressão que se tem ao ouví-los é de que estão esfregando as mãos de felicidade, na expectativa do dia da vingança.

        Como disse Mark Twain, "as pessoas que me dizem que eu vou para o inferno e que elas vão para o céu de certa forma me deixam feliz por não estarmos indo para o mesmo lugar".

        F. S.
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        Fontes:
        (1) Lord Byron, "Detached Thoughts", no.96 (1821- 22) em "Byron's Letters and Journals", vol. 9, 1979.
        (2) Dennis McKinsey, "Biblical Errancy - My two pamphlets".
        (3) William C. Easttom II
        (4) Lemuel K. Washburn, "Is The Bible Worth Reading And Other Essays"
        (5) Tomás de Aquino, 1225-1274, "Summa Theologica"
        (6) Tertuliano, "De Spectaculis"
 
Conclusão:

O nosso tempo conta-nos uma estranha fábula: a de uma sociedade dedicada ao hedonismo em que qualquer contrariedade é chocante, para a qual tudo se torna a causa de irritação e suplício. Para ela, a infelicidade não é só a infelicidade, mas o fracasso da felicidade. Com o pensamento moderno, o prazer e o bem-estar são reabilitados e o sofrimento posto de lado como um arcaísmo. Inferno é sofrer; castigo é sofrer; sofrer é sofrer. Assim, a felicidade não só constitui a maior indústria dos dias de hoje, como é também a nova ordem moral: daí que a depressão prolifere.

J. P.

Nota de falecimento


MORTE DA D. "REUNIÃO DE ORAÇÃO"

Faleceu, na congregação dos negligentes e frios da fé, a senhora “reunião de oração”, que já estava enferma desde os primeiros séculos da era cristã, apesar de algumas recuperações pontuais, especialemente nos séculos XVI, XVIII e XIX.

Ela foi proprietária de grandes avivamentos bíblicos, de grande poder e influência no passado.

Os médicos constataram que sua doença foi motivada pela “frieza de coração”, devido à falta de circulação do “sangue da fé”, de acomodação à mentalidade moderna e acusava sintomas do cancro letal conhecido por "amor pelo mundo".

Constataram ainda “dureza de joelhos” – não dobravam mais, “fraqueza de ânimo” e muita falta de boa vontade.

Foi medicada e acompanhada, mas erradamente, pois deram-lhe grandes doses de “administração e marketing de empresas”, alterando-lhe a dieta; o xarope de “reuniões sociais” acabou por sufocá-la; deram-lhe “injecções de competições desportivas”, o que provocou má circulação nas amizades, trazendo ainda os males da carne: rivalidades, ciúmes, principalmente entre os jovens. 
Receitaram-lhe brandura e encurtamento nas pregações, substituindo-as por "cultos de louvor", encontros em "bares cristãos", reuniões de "testemunhos" e, sobretudo, uma grande dose de subjectividade nas apreciações éticas.

Como último recurso, administraram-lhe muitos “acampamentos”, comprimidos de “clube de campo” e congressos teológicos. Até cápsulas de “gincana” lhe deram para tomar! Tentaram, igualmente, compensar essa fragilidade com trabalho social, mas sem algum resultado. 

Como resultado só nos resta lamentar o falecimento da Srª. “Reunião de Oração”.

A autópsia revelou: falta de alimentação, como “pão da vida”, carência de “água viva”, e ausência de vida espiritual.

Em sua memória, a congregação dos negligentes, situada na R. do Mundanismo, nº 666 não mais fará cultos semanais e aos Domingos haverá Culto ou Escola Dominical, com brevíssimos pensamentos bíblicos, só pela manhã, assim mesmo quando não houver dias feriados, emendando o lazer de Sexta a Segunda, e vigília nem pensar. Fica também decidido que as datas como a Páscoa e o Natal não mais servirão para reuniões especiais devido ao facto de que os crentes aproveitam para gozar as suas merecidas férias.

As nossas condolências.

Relativismo 6 - Situacionismo

Um sexto e último argumento do relativismo é que as situações são tão diversas e complexas que não parece nem razoável nem realista circunscrevê-las às normas morais universais. Matar pode mesmo ser bom se a guerra for necessária para a paz. O roubo pode ser bom se se roubar uma arma a um louco. Até mentir pode ser bom se mentir aos nazis sobre onde estão escondidos os judeus. O argumento é essencialmente este: a moralidade é determinada por situações e as situações são relativas. Portanto, a moralidade é relativa. Um argumento intimamente relacionado pode ser considerado em que a moralidade é relativa porque ela é determinada pela motivação. Todos nós culpamos alguém por tentar assassinar outra pessoa, mesmo que não tenha sucesso na sua acção, simplesmente porque sua motivação é errada. Mas não culpamos moralmente de assassinato alguém por matar outra pessoa acidentalmente. Por exemplo, como dar doces a uma criança quando não se tem maneira nenhuma de saber que ela é seriamente diabética. Portanto, o argumento é, essencialmente, que a moralidade é determinada pelo motivo, e o motivo é subjectivo, portanto a moralidade é subjectiva.

A moralidade é parcialmente, mas não totalmente, determinada por situações.

Assim a situacionista e o motivacionista concluem ambos contra absolutos morais. O situacionista porque encontra toda a moralidade relativa à situação, o motivacionista porque ele localiza toda a moralidade relativa ao motivo. Nós respondemos com uma distinção de senso comum. Moralidade é, de facto, condicionada ou parcialmente determinada, por situações e motivações, mas não é inteiramente determinada por situações ou motivações. A moralidade tradicional no senso comum envolve três determinantes morais, três factores que influenciam se uma lei específica é moralmente boa ou má. A natureza do próprio acto, a situação e o motivo. Ou, o que você faz, quando, onde e como você o faz e por que razão você o faz. É verdade que ao fazer a coisa certa na situação errada, ou pelo motivo errado, não é bom. Fazer amor com a sua esposa é uma boa acção, mas já não o é fazê-lo quando é medicamente perigoso. O acto é bom, mas não nesta situação. Dar dinheiro aos pobres é uma boa acção, mas fazê-lo apenas para se exibir já não é. O acto é bom, mas o motivo não é.

No entanto, deve primeiro haver uma acção antes de poder ser qualificada por motivos subjectivos ou situações relativas e que certamente é também moralmente relevante. A vida é como uma boa obra de arte. Uma boa obra de arte exige que todos os seus elementos essenciais sejam bons. Por exemplo, uma boa história deve ter um bom enredo, boas personagens e um bom tema. Por isso uma boa vida requer que você faça a coisa certa, o acto em si; que tenha uma boa razão ou motivo; que você o faça pela via certa. Além disso, situações, embora relativas, são objectivas, não subjectivas. E as motivações, embora subjectivas, evidenciam absolutos morais. Eles podem ser reconhecidos como intrinsecamente e universalmente bons ou maus. A vontade de ajudar é sempre boa, a vontade de prejudicar é sempre má. Assim, até o situacionismo é uma moralidade objectiva, e até mesmo o motivacionismo ou o subjectivismo são uma moral universal.

O facto de que princípios devem ser aplicados de forma distinta a diferentes situações pressupõe a validade desses mesmos princípios. Os absolutistas morais não necessitam de ser absolutistas relativamente à aplicação em situações. Eles podem ser flexíveis. Mas uma aplicação flexível da norma pressupõe não só uma norma, mas uma norma rígida. Se o padrão é tão flexível quanto a situação, então não se trata de padrão. Se o critério com que medir o comprimento uma serpente for tão torto como essa serpente, será impossível de a medir jacaré em condições. Os critérios têm de ser rígidos. E os absolutistas morais não devem ser juízes dos motivos, apenas dos actos. Quando Jesus disse: "Não julgai para não serdes julgados" certamente quis dizer "não pretendais julgar corações e motivações, coisa que só Deus pode saber". Ele certamente não quis dizer, "Não julgueis os actos. Não discrimineis moralmente agressão de defesa, matar de curar, roubar de caridade". Na verdade, é apenas o Absolutista moral, e não o relativista, que pode condenar o julgamento da motivação, uma vez que só ele pode condenar a intolerância. O relativista pode apenas condenar o Absolutismo moral.

(Adaptado)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Relativismo 5 - Tolerância

Um quinto argumento, igualmente comum hoje em dia, é que o relativismo moral é tolerante, enquanto que o absolutismo é intolerante. Actualmente, a tolerância é um dos poucos valores sem controvérsias. Quase toda a nossa sociedade o aceita. Portanto, é um poderoso ponto de venda para qualquer teoria ou prática que o possa reivindicar. Em que consiste esta reivindicação do relativismo quanto à tolerância? Existem nada menos do que sete falácias neste argumento popular.

Em primeiro lugar, que fique claro o que queremos dizer com tolerância. A tolerância é uma qualidade de pessoas, não de ideias. Ideias podem ser confundidas, difusas, mal definidas ou erradas, mas isto não as torna tolerantes ou intolerantes, mais do que a sua clareza ou exactidão as poderiam tornar intolerantes. Se um carpinteiro tolera 0,5 cm de um desvio do plano, ele é duas vezes mais tolerante do que aquele que tolera somente 0,25 cm, mas ele é não menos claro. Um professor pode não tolerar nenhuma dissidência de seu ponto de vista difuso e mal definido — um marxista, digamos — enquanto outro, por exemplo Sócrates (o filósofo), pode tolerar muita dissidência de seu ponto de vista claramente definido.

Em segundo lugar, o relativista alega que o absolutismo, a crença em leis morais universais, objectivas e imutáveis, promove a intolerância do pontos de vista alternativo. Mas nas ciências, o caso não tem sido assim. As ciências certamente têm beneficiado e progredido consideravelmente como consequência da tolerância sobre pontos de vista diversos e heréticos. Além do mais, a Ciência não trata de verdades subjectivas, mas de verdades objectivas. Logo, o Objectivismo não causa, necessariamente, a intolerância.

Em terceiro lugar, o relativista ainda pode argumentar que os absolutos são duros e inflexíveis e, por conseguinte, o seu defensor também será duro e inflexível. Mas isso é outro non-sequitur (do latim “não se segue”). Qualquer um pode ensinar factos duros de uma maneira suave ou pareceres suaves de uma maneira dura.

Em quarto lugar, a mais simples refutação do argumento de tolerância é sua principal premissa. Ela assume que a tolerância é real, objectiva, universal e absolutamente boa. Se o relativista responde que não está pressupondo o valor absoluto e objectivo de tolerância, então tudo o que ele está fazendo é exigir a fundação da sua preferência pessoal subjectiva de tolerância. Isso é certamente mais intolerante do que o apelo para uma lei objectiva, universal, impessoal, moral. Se não há valores morais absolutos, então nem a tolerância o é. Se tudo é relativo, como o relativista afirma, então a própria afirmação que assevera que tudo é relativo é, em si mesma, relativa. O absolutista pode conceber muito mais a sério a tolerância do que o relativista. É o absolutismo, não o relativismo, que promove a tolerância.

Quinta falácia: é o relativismo que promove a intolerância. Por que não ser intolerantes? O relativista não possui resposta a esta pergunta. Porque sentimo-nos melhor sendo tolerantes? Ou porque é consenso popular? Suponha também que já não se sente melhor. Suponha que ele deixa de ser popular. A relativista não pode recorrer a nenhuma lei moral como uma barragem contra a inundação da intolerância. Precisamos desesperadamente de obstáculos porque as sociedades, como indivíduos, são inconstantes e falaciosos. O que irá impedir uma Alemanha de filosofia humanista de se transformar numa Alemanha de filosofia desumana, nazi e de superioridade racial? Ou, uma Europa agora tolerante de se voltar para uma futura Europa intolerante contra qualquer grupo que a decide desqualificar. São os não nascidos bebés de hoje que serão os bebés nascidos amanhã. Homófobos hoje, talvez homossexuais amanhã. Este mesmo absolutismo tão temido pelos homossexuais, porque não tolerante com seu comportamento, é sua única protecção segura contra a intolerância das suas pessoas.

Sexta falácia. O exame do significado essencial do conceito de tolerância revela um pressuposto de objectivismo moral, pois não tolera o bem. Só tolera o mal para evitar piores males. O paciente vai tolerar a náusea provocada pela quimioterapia para evitar a morte por cancro. E uma sociedade tolerará coisas más, como o tabaco (cada vez menos), para preservar as coisas boas, como privacidade e liberdade.

Sétimo, o defensor da tolerância enfrenta um dilema quando se trata de tolerância intercultural. A maioria das culturas ao longo da história não colocou uma alta importância no que respeita à tolerância. Na verdade, algumas até mesmo a consideraram uma fraqueza moral. Deveríamos nós tolerar essa intolerância? Em caso afirmativo, deve-se tolerar a intolerância, então o defensor da tolerância teria feito melhor calar-se sobre a Inquisição. Mas se não se deve tolerar a intolerância, qual a razão? Porque é que a tolerância é boa, e a Inquisição foi realmente má? Nesse caso, estamos pressupondo um valor universal e objectivo transcultural. E se, em vez disso, diz que é só por causa do nosso consenso pela tolerância? Mas o consenso na História joga contra ele. Por que impor nossa? Não é isto culturalmente intolerante?

Relativismo 4 - Liberdade

Um quarto argumento é que o relativismo moral, por si só, garante a liberdade, enquanto que o Absolutismo moral ameaça a liberdade. As pessoas muitas vezes perguntam como podem ser verdadeiramente livres se elas não são livres para criar seus próprios valores. Na verdade, a nossa Justiça tem declarado que temos o direito fundamental a definir o significado da nossa existência. Este é o mais fundamental de todos os direitos, se estiver correcto, ou a mais fundamental de todas as loucuras, se estiver errado. Este é a coisa mais sábia ou a mais estúpida que a Justiça alguma vez já tenha declarado.

A resposta mais eficaz a este argumento é, frequentemente, um argumento do tipo "ad hominem" (atacar uma reputada autoridade e não as suas qualificações). Dizer à pessoa que exige o direito de ser livre para criar seus próprios valores que você também exige esse mesmo direito e que o sistema de valores que você escolher é um em que as suas opiniões não têm absolutamente valor nenhum. Ou, um sistema em que você é Deus e que exige, legitimamente, obediência total de todos os outros. Rapidamente essa pessoa protestará em nome da Verdade e da Justiça, mostrando que realmente acredita, em última análise, pelo menos nesses dois valores objectivos. Se não fizer isso, se protestar apenas em nome do seu sistema de valores alternativos que criou, então o seu protesto contra o seu egoísmo e megalomania não é melhor que o seu protesto contra sua justiça e verdade. Consequentemente, esse argumento só pode implodir completamente e esta situação muito dificilmente garantirá a liberdade.

Uma segunda refutação do argumento do relativista da liberdade é que a liberdade não pode criar valores, porque a liberdade já pressupõe valores. De que maneira é que a liberdade pressupõe valores? Bem, primeiramente porque o argumento do relativista em que o relativismo garante liberdade deve assumir que a liberdade é realmente valiosa, assumindo assim, pelo menos, um valor objectivo. Em segundo lugar, se a liberdade é realmente boa, deve estar livre de algo muito mau, assumindo assim um objectivo bom e mau. Em terceiro lugar, o defensor da liberdade quase sempre vai insistir que a liberdade deve ser concedida a todos e não apenas a alguns, pressupondo, portanto, o valor real da igualdade, a regra de ouro.

Mas a mais simples refutação do argumento sobre liberdade é experiência. A experiência ensina-nos que somos livres para criar costumes alternativos, como regras socialmente aceitáveis para a fala, vestuário, refeições ou condução. Mas ela também nos ensina que não estamos, na verdade, livres para criar alternativas morais. Como a traição, ou violação, ou assassinato, como sendo princípios correctos. Ou fazer da caridade ou justiça coisas erradas. Não podemos criar um novo valor moral fundamental mais do que podemos criar uma nova cor primária, ou uma nova aritmética, ou um novo universo. Nunca aconteceu nem nunca acontecerá. E se pudéssemos criar novos valores, não mais seriam valores morais. Apenas seriam regras do jogo inventadas arbitrariamente. A nossa consciência não se sentiria vinculada por eles, ou culpada após a sua transgressão. Se fôssemos livres para criar "Matarás" ou "Não matarás" seríamos igualmente livres para criar "Jogarás futebol" ou " Não jogarás futebol" e, consequentemente, sentir-nos-íamos tão culpados por assassinar como por não jogar futebol.

Na verdade, todos nós nos sentimos ligados a alguns valores morais fundamentais, como a Justiça ou a regra de ouro, por exemplo. Experimentamos a nossa liberdade de escolha para optar em obedecer ou desobedecer-lhes, mas também experimentamos uma falta de liberdade para transformá-los em seus opostos. Não podemos espontaneamente odiar o bem ou amar o mal. Experimente, não conseguirá. Tudo que pode fazer é recusar a ordem moral no seu todo. Você não pode criar outra. Você pode optar por violar, mas você não pode ter a obrigação moral de cometer a violação.

(Adaptado)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Relativismo 3 – Condicionamento Social

Um terceiro argumento do relativismo é semelhante ao segundo, mas é mais psicológico do que antropológico. Supostamente, este argumento também é baseado num facto cientificamente verificável. O facto é que as condições da sociedade imprimem valores em nós. Se fôssemos educados numa sociedade Hindu, teríamos valores hindus. Assim, a origem dos valores parece ter origem nas próprias mentes humanas, pais e professores, ao invés de ser algo objectivo à mente do ser humano. E o que vem de seres humanos é, evidentemente, subjectivo, como as regras do futebol, mesmo que sejam públicas e universalmente aceites. Esse argumento, como o anterior, também confunde valores com opiniões de valor. Talvez as condições da sociedade valorizem as opiniões em nós, mas isso não significa que a sociedade valorize condições em nós, a menos que os valores não sejam nada a não ser opiniões de valor, que é precisamente o ponto em questão, a conclusão. Portanto, o argumento novamente suscita a questão.

A sociedade condiciona as opiniões, mas não os valores objectivos


Existe também uma falsa suposição nesse argumento. A suposição é que tudo o que podemos aprender com a sociedade é subjectivo. Isso não é verdade. Podemos aprender as regras do futebol ensinadas pela sociedade, mas também podemos aprender as regras de multiplicação. As regras do futebol são subjectivas e provocadas pelo homem; as regras de multiplicação não são. Naturalmente, os sistemas de linguagem em que manifestamos quaisquer regras são sempre provocadas pelo homem. Mas a mente humana cria, em vez de descobrir, as regras do futebol e a mente descobre, ao invés de criar, as regras de multiplicação. Assim o facto de que podemos aprender determinada lei ou o valor da nossa sociedade não prova per si que é subjectiva.

Finalmente, mesmo a premissa expressa deste argumento não é totalmente verdadeira. Nem todas as opiniões de valor são o resultado de condicionamento social. Se elas o fossem, então não poderia haver uma não-conformidade à sociedade baseada em valores morais. Só poderia haver rebeliões de força, ao invés de princípios. Mas, na verdade, há muitos não-conformistas de princípio. Essas pessoas não derivaram os seus valores inteiramente da sua sociedade, uma vez que discordam com sua sociedade sobre valores. Então, a existência de não-conformistas morais é prova empírica da presença da origem de valores trans-sociais.

(Adaptado)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Relativismo 2 – Influência Cultural

Um segundo argumento para o relativismo é o argumento do relativismo cultural. Este argumento parece inexpugnável. A alegação é que antropólogos e sociólogos descobriram que o relativismo moral não é uma teoria, mas um facto empírico. Diferentes culturas e sociedades, como indivíduos diferentes, simplesmente, têm valores morais muito diferentes. Em Portugal a pena de morte é errado; em certos estados dos E.U.A é correcto. Na cultura contemporânea a fornicação é correcto; nas culturas cristãs a fornicação é errado. E assim por diante.

Descartes refere no seu “Discurso do Método” que "não existe nenhuma ideia tão estranha que algum filósofo não a tenha seriamente ensinado". Da mesma forma, não há nenhuma prática tão estranha que não tenha sido legitimada por algumas sociedades, tais como genocídio, ou canibalismo; ou, tão inocentemente, que algum grupo não tenha proibido, por exemplo, entrar num templo religioso com ou sem chapéu. Portanto, quem pensa que os valores não são relativos para culturas é simplesmente ignorante relativamente aos factos, reza assim o argumento.

Nem sempre é certo obedecer à cultura


Para ver a falácia lógica nesse argumento aparentemente inexpugnável, temos de olhar para a sua suposição tácita — que esse acerto moral é uma questão de obediência aos valores culturais. Que ele tem razão em obedecer aos valores da cultura. Sempre. Só se combinarmos essa premissa oculta com a premissa do declarado — que valores são diferentes com culturas — podemos chegar à conclusão de que o acerto moral é diferente segundo as culturas. Que o que está errado numa cultura está certo noutra. Mas, certamente, esta premissa oculta é uma falácia da petição de princípio (provar um argumento através da sua conclusão). Pressupõe o relativismo moral que é suposto provar! O absolutista nega que se tem razão a obedecer sempre aos valores da cultura. Ele tem um padrão transcultural pelo qual ele pode criticar os valores de uma cultura no seu todo. É por isso que ele poderia ser considerado um progressista, enquanto que o relativista só pode ser considerado como alguém com um status-quo conservador, não tendo nenhum padrão mais elevado do que a sua própria cultura. Meu país, certo ou errado. Apenas a maciça, mediática, propaganda mentirosa poderia confundir as mentes das pessoas que pensam espontaneamente o oposto. Mas, na verdade, é apenas o crente à moda antiga, cumpridor da lei moral natural, que poderia ser um radical social e progressista. Só ele pode dizer a um Hitler, ou um Saddam Hussein, "você e toda a vossa ordem social estão errados, são perversos e merecem ser destruídos." O relativista poderia apenas dizer: "Modas diferentes para diferentes pessoas e acontece que eu odeio as suas e prefiro as minhas, mas isso é tudo”.

Temos de distinguir as opiniões de valor subjectivo das de valores objectivos


A segunda fraqueza lógica do argumento sobre o relativismo cultural são os seus equívocos sobre o termo "valores". O Absolutismo moral distingue opiniões subjectivas sobre valores verdadeiramente objectivos. Assim como ele distingue verdade objectiva de opiniões subjectivas sobre Deus, ou sobre a vida após a morte, ou sobre a felicidade, ou sobre os números, ou beleza, só para ter cinco outras questões não-empíricas. Pode ser difícil, ou mesmo impossível, provar estas coisas ou alcançar a certeza sobre elas ou mesmo conhecê-las na sua totalidade. Mas isso não significa que eles sejam irreais. Mesmo que essas coisas possam não ser conhecidas, não significa que elas não existam. E mesmo que elas não possam ser conhecidas com absoluta certeza, não significa que eles não possam ser parcialmente conhecidas por parecerem certas. E mesmo que elas não possam ser provadas, não significa que elas não possam ser conhecidas com  absoluta certeza. E mesmo que elas não possam ser provadas pelo método científico, não significa que não possam ser provadas. Eles poderiam ser reais, mesmo se desconhecidas; conhecidas, mesmo se não absolutamente conhecidas; certamente conhecidas, mesmo se não provadas; e provadas, mesmo se não cientificamente provadas.

O equívoco básico no argumento do relativista cultural é entre valores e opiniões de valor. Culturas diferentes podem ter opiniões diferentes sobre o que é moralmente valioso, assim como elas podem ter opiniões diferentes sobre o que acontece após a morte. Mas isso não implica que a conclusão de que o que é realmente certo numa cultura seja realmente errado noutra, não mais do que diferentes opiniões sobre a vida após a morte impliquem a conclusão de que coisas diferentes realmente acontecem após a morte, dependendo de crenças culturais. Só porque eu creio que não há nenhum inferno não prova que não há nenhum e que eu não vá para lá. Se assim fosse, uma maneira simples e infalível de ser salvo seria simplesmente parar de acreditar no inferno. Da mesma forma, só porque um nazi acha que o genocídio é correcto isso não constitui prova que o é, a menos que nada seja bom ou mau e que apenas o pensamento ajuíze. Essa é a conclusão do relativista.Também não pode ser a sua premissa sem a justificar pela sua conclusão.

As culturas não diferem totalmente


Há ainda outro erro no argumento do relativista cultural. Parece que praticamente tudo o que possivelmente pode ser errado com um argumento é errado com este. O argumento dos factos não tem sequer seus factos correctos. Culturas não diferem, na verdade, totalmente sobre valores mesmo se o termo “valores” é levado a significar apenas opiniões de valor. Nunca nenhuma cultura existiu que acreditasse e ensinasse o que Nietzsche chamou uma “Transvalorização” de todos os valores. Houve diferenças de ênfase, por exemplo, na coragem como virtude mais valorizada pelos nossos ancestrais do que nós, enquanto nós valorizamos a compaixão mais do que eles fizeram. Mas nunca houve qualquer coisa como o relativismo de opiniões sobre os valores que o relativista ensina como história factual.

Basta imaginar como seria. Tente imaginar uma sociedade onde a justiça, honestidade, coragem, sabedoria, esperança e auto-controle fossem consideradas moralmente maus. E a falta restrições do egoísmo, covardia, preguiça, traição, vício e desespero foram considerados moralmente bons. Tal sociedade nunca existiu à face da Terra. Se existir em qualquer lugar é só no inferno e suas colónias. Apenas Satanás e seus adoradores dizem "mal, tu és o meu bem". Há de facto importantes desacordos sobre valores entre culturas. Mas subjacente a todos os desacordos sobre valores menores sempre existe um acordo sobre os valores mais básicos. Sob todas as divergências sobre a aplicação de valores em situações concretas — por exemplo, a pena de morte — sempre existe o acordo sobre valores absolutos — por exemplo, assassinato é mau uma vez que a vida humana é boa. Além do mais, desacordos morais entre culturas, bem como entre indivíduos, seriam impossíveis a menos que haja alguns acordos morais mais profundos, algumas premissas morais comuns. Os valores morais são para as leis de uma cultura o que, algo assim parecido, os conceitos são para as palavras. Quando visita um país estrangeiro, você experimenta o choque inicial. A linguagem é totalmente diferente. Mas, de seguida, sob as palavras diferentes você encontra conceitos comuns. E isso é o que possibilita a tradução de um idioma para outro. Analogamente, sob diferentes legislações sociais, encontramos leis morais humanas comuns. Encontramos uma moral semelhante sob diferentes costumes. O acordo moral entre Moisés, Buda, Confúcio, Lao Tzu, Sócrates, Salomão, Jesus, Cícero, Maomé, Zoraster e Hammurabbi é muito maior do que suas diferenças morais.

(Adaptado)

Relativismo 1 - Argumento Psicológico

O primeiro argumento do relativismo é psicológico. Na prática, as razões psicológicas — isto é, os porquês psicológicos, os motivos pessoais subjectivos — geralmente são uma fonte mais poderosa de relativismo moral do que os porquês lógicos — ou seja, os argumentos lógicos objectivos. Portanto, devemos perguntar, qual é o principal motivo para preferir o relativismo? Dado que o nosso desejo mais profundo é a felicidade e dado que os medos correspondem aos desejos, provavelmente é o medo que o Absolutismo moral nos faça infelizes, fazendo-nos sentir culpados. Por isso chamamos ao Absolutismo moral desamoroso ou incompassivo. Se for transformado argumento revestir-se-á desta forma: a boa moralidade tem consequências boas, má moralidade tem consequências más. Sentimentos de infelicidade e culpa são consequências funestas, enquanto sentimentos de felicidade e auto-estima são boas consequências. Absolutismo moral produz maus sentimentos de culpa e infelicidade, enquanto o relativismo moral produz bons sentimentos de auto-estima e felicidade. Portanto, o Absolutismo moral é mau e o relativismo moral é bom.

As leis morais maximizam a felicidade


A resposta a este argumento é antes de tudo que a lei moral absoluta existe não para minimizar, mas para maximizar a felicidade humana, e, portanto, é maximamente amável e compassiva. Tal como os rótulos, ou mapas que indicam coisas ou direcções, ninguém é feliz se comer veneno ou conduzir em direcção de um precipício. Mas, e quanto à culpa? Remover absolutos morais, de facto, remove o sentimento de culpa, mas neste sentido, obviamente, não traz a felicidade a curto prazo. Mas a culpa, como dor física, pode até ser necessária para evitar uma maior infelicidade a longo prazo, se for realista, ou seja, em sintonia com a realidade e não com uma patologia. Então a questão é: a realidade inclui leis morais objectivas? Se isso não acontecer, a culpa é uma experiência tão inútil como a paranóia. Mas se o fizer, é tão bom como a dor e por uma razão semelhante: para evitar danos. A culpa é um aviso na alma, análogo à dor como um aviso no corpo.

O argumento do relativista também tem um pressuposto de raciocínio circular (o acto de justificar uma afirmação através dessa mesma afirmação). Ele pressupõe que os sentimentos são o padrão para julgar a moralidade. Mas a alegação de moralidade tradicional é exactamente o oposto: que a moralidade é o padrão para julgar os sentimentos. Finalmente, se o argumento de auto-estima e culpa é correcto, ele segue logicamente que se os violadores, canibais, terroristas ou tiranos sentem auto-estima, então são pessoas melhores do que se sentissem culpados, logo, que o problema de Hitler terá sido apenas a falta de autoconfiança.

Resta dizer que algumas ideias estão além da necessidade de refutação… excepto nas universidades!

(Adaptado)

Relativismo - Introdução

relativism Peter Maurin e Dorothy Day definem uma sociedade boa como uma que torna mais fácil que o indivíduo seja bom. Correlativamente, uma sociedade livre é aquela que faz com que seja fácil ser livre. Ser livre e viver livremente, é viver espiritualmente, porque só espírito é livre — a matéria não o é. Viver espiritualmente é viver moralmente. As duas propriedades essenciais do espírito que se distinguem da matéria são intelecto e a vontade — a capacidade de conhecimento e escolha moral. Os ideais da verdade e da bondade. A ameaça mais radical para viver moralmente hoje é a perca de princípios morais.

Relativismo é a questão mais importante da nossa época.

A prática da Moral sempre foi difícil para a humanidade caída, mas pelo menos sempre houve o farol de princípios morais, não importa a tempestuosidade do mar da prática moral. Mas hoje, com a maioria de nossas mentes moldadas na educação formal ou informal — ou seja, meios de comunicação social — a luz desvaneceu. Moralidade é uma névoa de sentimentos. É por isso que para eles, como Chesterton disse, "a moralidade é sempre terrivelmente complicada para um homem que perdeu todos os seus princípios". Entenda-se por princípios aqueles princípios morais absolutos. Rochas imutáveis sob as ondas de mudanças de sentimentos e práticas. Relativismo moral é uma filosofia que nega quaisquer absolutos morais. Este é o inimigo público número um. É esta filosofia que extinguiu a luz nas mentes dos nossos professores e alunos e, eventualmente, se não for revertida, acabará por extinguir toda a nossa civilização. Portanto, não se pretende apenas apresentar um caso forte contra o relativismo moral, mas tão somente refutá-lo, desmascará-lo, colocá-lo a nu, humilhá-lo.

Quão importante é esta questão? Afinal, trata-se apenas de filosofia e filosofia são apenas ideias. Mas ideias têm consequências. Às vezes essas consequências são tão importantes como um Holocausto, ou uma Hiroshima. Às vezes até mais importantes. Filosofia é apenas pensado, mas ao semear um pensamento, colhe-se um acto; ao semear um acto, colhe-se um hábito; ao semear um hábito, colhe-se um carácter; ao semear um carácter, colhe-se um destino. Isto é tão verdade para as sociedades quanto para os indivíduos.
Quão importante é a questão? A questão do relativismo moral é somente a questão mais importante da nossa época, pois nenhuma sociedade em toda a história humana sobreviveu sem rejeitar esta filosofia. Nunca houve uma sociedade de relativistas. Portanto, nossa sociedade fará uma das três coisas: ou refutar uma das leis mais universalmente estabelecidas de toda a história; ou arrepender-se de seu relativismo e sobreviver; ou persistir em seu relativismo e perecer.

Quão importante é a questão? C.S. Lewis diz, em “O Veneno do Subjectivismo”, que esse relativismo "irá certamente terminar com a nossa espécie e condenar as nossas almas." Lembre-se de que os homens de Oxford (Oxonians) não são dados ao exagero. Porquê ele diz "condenar as nossas almas"? Lewis é cristão e não discorda do ensino fundamental de seu mestre, Cristo, e de todos os profetas na tradição judaica para os quais a salvação pressupõe o arrependimento e arrependimento pressupõe uma lei moral objectiva real. Relativismo moral elimina essa lei, trivializa assim o arrependimento e, consequentemente, a salvação.
As ideias têm consequências

O que o leva a dizer "acabar com nossa espécie" e não apenas a civilização ocidental moderna? Porque a espécie humana inteira está se tornando cada vez mais ocidentalizada e relativizada. É irónico que a América, a principal fonte de relativismo no mundo hoje, seja também nação mais religiosa do mundo. Isso é irónico porque a religião é para o relativismo o que o Dr. Van Helsing é para o Conde Drácula. Dentro da América, a oposição mais forte ao relativismo surge nas igrejas. Ironia ainda maior, de acordo com as pesquisas mais recentes, que os católicos sejam tão relativistas, tanto no comportamento como na crença, como os não-católicos, protestantes, evangélicos. Sessenta e dois por cento dos evangélicos negam qualquer verdade absoluta ou imutável e os judeus americanos são significativamente mais relativistas e seculares que os Gentios. Só judeus ortodoxos, ortodoxos orientais e os chamados “fundamentalistas” parecem ter resistindo a essa cultura, não por meio da conversão, mas por se terem retirado dela. E isso inclui a maioria dos muçulmanos. Quando Pat Buchanan disse em 1992 que estávamos numa guerra de cultura, toda a comunicação social se riu e zombou dele. Hoje, toda a gente sabe que ele estava certo e a guerra cultural é essencialmente sobre esta questão.

Temos de definir nossos termos quando começamos. Relativismo moral geralmente inclui três reivindicações: que a moralidade antes de tudo é mutável; em segundo lugar, subjectiva; e terceiro, individual. Que é relativa, em primeiro lugar, cronologicamente: não se pode voltar atrás no tempo. Em segundo lugar, para o que subjectivamente nós pensamos ou sentimos: nada é bom ou mau, mas o pensamento torna bom ou mau. Em terceiro lugar, a indivíduos; cursos diferentes para diferentes pessoas. Inversamente, absolutismo moral afirma que existem princípios morais que são imutáveis, objectivos e universais.

Devemos, primeiramente, examinar os argumentos de relativismo moral e refutá-los, afim de limpar o caminho para os argumentos contra ele.

(Adaptado)

E conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará

“Todos os homens nascem livres e iguais em direitos ” , trata-se do primeiro artigo da declara çã o universal dos direitos humanos e é a no...