quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Relativismo 5 - Tolerância

Um quinto argumento, igualmente comum hoje em dia, é que o relativismo moral é tolerante, enquanto que o absolutismo é intolerante. Actualmente, a tolerância é um dos poucos valores sem controvérsias. Quase toda a nossa sociedade o aceita. Portanto, é um poderoso ponto de venda para qualquer teoria ou prática que o possa reivindicar. Em que consiste esta reivindicação do relativismo quanto à tolerância? Existem nada menos do que sete falácias neste argumento popular.

Em primeiro lugar, que fique claro o que queremos dizer com tolerância. A tolerância é uma qualidade de pessoas, não de ideias. Ideias podem ser confundidas, difusas, mal definidas ou erradas, mas isto não as torna tolerantes ou intolerantes, mais do que a sua clareza ou exactidão as poderiam tornar intolerantes. Se um carpinteiro tolera 0,5 cm de um desvio do plano, ele é duas vezes mais tolerante do que aquele que tolera somente 0,25 cm, mas ele é não menos claro. Um professor pode não tolerar nenhuma dissidência de seu ponto de vista difuso e mal definido — um marxista, digamos — enquanto outro, por exemplo Sócrates (o filósofo), pode tolerar muita dissidência de seu ponto de vista claramente definido.

Em segundo lugar, o relativista alega que o absolutismo, a crença em leis morais universais, objectivas e imutáveis, promove a intolerância do pontos de vista alternativo. Mas nas ciências, o caso não tem sido assim. As ciências certamente têm beneficiado e progredido consideravelmente como consequência da tolerância sobre pontos de vista diversos e heréticos. Além do mais, a Ciência não trata de verdades subjectivas, mas de verdades objectivas. Logo, o Objectivismo não causa, necessariamente, a intolerância.

Em terceiro lugar, o relativista ainda pode argumentar que os absolutos são duros e inflexíveis e, por conseguinte, o seu defensor também será duro e inflexível. Mas isso é outro non-sequitur (do latim “não se segue”). Qualquer um pode ensinar factos duros de uma maneira suave ou pareceres suaves de uma maneira dura.

Em quarto lugar, a mais simples refutação do argumento de tolerância é sua principal premissa. Ela assume que a tolerância é real, objectiva, universal e absolutamente boa. Se o relativista responde que não está pressupondo o valor absoluto e objectivo de tolerância, então tudo o que ele está fazendo é exigir a fundação da sua preferência pessoal subjectiva de tolerância. Isso é certamente mais intolerante do que o apelo para uma lei objectiva, universal, impessoal, moral. Se não há valores morais absolutos, então nem a tolerância o é. Se tudo é relativo, como o relativista afirma, então a própria afirmação que assevera que tudo é relativo é, em si mesma, relativa. O absolutista pode conceber muito mais a sério a tolerância do que o relativista. É o absolutismo, não o relativismo, que promove a tolerância.

Quinta falácia: é o relativismo que promove a intolerância. Por que não ser intolerantes? O relativista não possui resposta a esta pergunta. Porque sentimo-nos melhor sendo tolerantes? Ou porque é consenso popular? Suponha também que já não se sente melhor. Suponha que ele deixa de ser popular. A relativista não pode recorrer a nenhuma lei moral como uma barragem contra a inundação da intolerância. Precisamos desesperadamente de obstáculos porque as sociedades, como indivíduos, são inconstantes e falaciosos. O que irá impedir uma Alemanha de filosofia humanista de se transformar numa Alemanha de filosofia desumana, nazi e de superioridade racial? Ou, uma Europa agora tolerante de se voltar para uma futura Europa intolerante contra qualquer grupo que a decide desqualificar. São os não nascidos bebés de hoje que serão os bebés nascidos amanhã. Homófobos hoje, talvez homossexuais amanhã. Este mesmo absolutismo tão temido pelos homossexuais, porque não tolerante com seu comportamento, é sua única protecção segura contra a intolerância das suas pessoas.

Sexta falácia. O exame do significado essencial do conceito de tolerância revela um pressuposto de objectivismo moral, pois não tolera o bem. Só tolera o mal para evitar piores males. O paciente vai tolerar a náusea provocada pela quimioterapia para evitar a morte por cancro. E uma sociedade tolerará coisas más, como o tabaco (cada vez menos), para preservar as coisas boas, como privacidade e liberdade.

Sétimo, o defensor da tolerância enfrenta um dilema quando se trata de tolerância intercultural. A maioria das culturas ao longo da história não colocou uma alta importância no que respeita à tolerância. Na verdade, algumas até mesmo a consideraram uma fraqueza moral. Deveríamos nós tolerar essa intolerância? Em caso afirmativo, deve-se tolerar a intolerância, então o defensor da tolerância teria feito melhor calar-se sobre a Inquisição. Mas se não se deve tolerar a intolerância, qual a razão? Porque é que a tolerância é boa, e a Inquisição foi realmente má? Nesse caso, estamos pressupondo um valor universal e objectivo transcultural. E se, em vez disso, diz que é só por causa do nosso consenso pela tolerância? Mas o consenso na História joga contra ele. Por que impor nossa? Não é isto culturalmente intolerante?

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