Sempre me surpreendeu a maneira como Deus realiza e leva
avante o seu trabalho na Terra. Fora dos parâmetros frequentemente idealizados
pelo homem, por mais calvinista, arminiano ou qualquer outra coisa que seja,
sem se limitar ao balizamento do preconceito religioso ou social, Deus age,
trabalha e realiza. O Homem gosta de se sentir seguro e essa segurança só lhe é
outorgada pela completa compreensão do que se passa à sua volta, do que vê
acontecer e do que crê que esteja a acontecer. Na ânsia de tudo querer
compreender estabelecem-se leis e limites. Tudo o que não esteja estremado por
essas leis e limites será erro, mentira, porque indecifrável e não compatível
com a crença de que as coisas para acontecerem de “maneira normal” devem
acontecer daquela maneira que pré-estabelecemos, ou melhor dizendo, “à nossa
maneira”. Tudo o resto é objecto de desconfiança, de decomposição crítica e, em
última análise, de rejeição por vezes – talvez muito frequentemente – de uma
forma violenta, seja por palavras ou actos. Há uns dias um familiar deu-me uma
notícia bastante inesperada e, simultaneamente, emocionante. À conversa com uma
senhora esse meu familiar repetiu o que ela lhe havia dito: “não me posso
esquecer que foi no seguimento de uma pregação do seu filho que Deus me
converteu!” Passados mais de 10 anos. E continua firme. Nessa pregação não
houve apelos, choros, música temática ou quaisquer outros artifícios humanos
para dar um empurrão às decisões. Sei que não houve porque fui eu a pregar.
Além do mais só vim a saber passados estes anos todos. Nem sequer conheço a
senhora em causa.
Relato este caso, pois não sou o pastor convencional. Nada
disso. Sempre me senti de certa maneira culpado e constrangido não pela minha
rebeldia em relação àquilo a que se chama de convencional, mas pelo facto de nunca
ter conseguido ser um pastor como os demais, como os meus amigos que admiro e cujo
exemplo tento, de certa maneira, imitar. Mas Deus trabalhou, não por causa de
mim, mas apesar de mim. Fiquei comovido pois o desalento e falta de coragem
face às dificuldades exteriores e, principalmente, interiores são uma montanha
quase sempre prestes a desabar sobre o que resta da minha coragem. Fiquei
comovido pois vejo a obra de Deus a ser feita, em silêncio, discreta como uma
brisa suave, sem violência, sem técnicas. Apenas a ser realizada.