segunda-feira, 31 de outubro de 2011

494 anos de Reforma protestante

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O mundo mudou completamente quando no dia 31 de Outubro de 1517 um monge destemido de nome Martinho Lutero prega na porta da catedral de Wittemberg as suas 95 teses denunciando doutrinas da igreja católica-romana. De início, Lutero apenas pretendia a reforma da citada instituição religiosa que personificava a religião estatal predominante. Embora a génese deste protesto tenha sido de cariz religioso, logo as forças políticas tiraram o devido partido e estimularam o movimento pela Europa especialmente nos países do centro e norte. O pensamento Renascentista, os abusos católico-romanos e a descoberta de novos mundos que proporcionaram uma visão civilizacional fora da esfera católica-romana deram o impulso desejado a este movimento. A ascensão de uma burguesia comerciante e a insatisfação das casas reais devido à intromissão papal nos assuntos de estado impeliram politicamente a Reforma no seu sentido mais secular.


Este conjunto de factores não deve ser estranho à mão divina e seus intentos. Deus escreve direito por linhas tortas, diz o povo, e a vontade de Deus é perfeitamente realizada através do combinado de maquinações sociais e político-religiosas. Considerado por muitos como o maior avivamento religioso da era cristã, a Reforma foi, indubitavelmente, o berço de uma nova visão do Evangelho especialmente na doutrina nuclear da justificação somente pela fé. Certamente que Lutero, e os outros reformadores, ainda “encharcados” das práticas eclesiásticas vigentes na época, apenas deram o pontapé de saída para um acrisolamento da boa doutrina distorcida por séculos de aditivos heréticos e clericais. Antes de Lutero é certo que outros já, por sua vez, haviam lutado por isso; depois de Lutero outros se seguiram. Todavia, foi a temeridade e coragem deste homem, contra tudo e contra todos, desafiando o poder reinante e arriscando a vida (naquele tempo queimavam-se os hereges!) que deu o golpe de graça na preeminência católica-romana.

Lutero era um homem de oração e de acção. Era um homem que não se conformava com qualquer situação se esta não correspondesse à sua visão do que era a verdade. Apesar dos desvios posteriores, Martinho Lutero enfrentou a morte, a oposição, a intolerância e a insatisfação das hierarquias.
Após 494 anos de Reforma dela já praticamente nada resta.

A Aliança Evangélica Portuguesa colocou no seu site (www.portalevangelico.pt) a comemoração dos 90 anos da A.E.P. com um documento em que, no seu terceiro parágrafo, “o debate aberto e respeitoso entre as diferentes confissões religiosas”, isto é, o desfazer do que foi realizado há 494 anos. No mínimo é uma afronta à inteligência o pretender discutir, sob pretexto de tolerância social, aquilo que é indiscutível. E nem uma palavra sobre a Reforma. Não é preciso ser luterano ou calvinista para reconhecer o que foi a Reforma do século XVI. Sem ela talvez (certamente) não existissem as A.E.P’s, nem as igrejas locais tal como as conhecemos hoje. A justificação unicamente pela fé foi redescoberta pela Reforma e qualquer igreja que se diga evangélica a tem de pregar e guardar ao abrigo de qualquer desvio, por mais pequeno que seja. Esta doutrina é o pilar sobre o qual a verdadeira igreja se ergue ou se desmorona. Como é possível ignorar tal facto? Como é possível voltar ao debate com uma instituição herética que, ao mínimo descuido, destruirá a herança reformada? Cada vez se quer mais marcar a diferença no mundo acomodando-nos com ele, ora que essa diferença é marcada precisamente por ser diferentes. A cobardia e a fraqueza das chefias evangélicas actuais são gritantes. Conformados, adormecidos no seu torpor político-evangélico, uma grande parte dos actuais chefes evangélicos apenas velam pelas suas estatísticas, reconhecimento social e remunerações. Esquecem que a Igreja Evangélica precisa de pregadores poderosos, doutrina forte e oração eficaz. Ela não precisa de marchas, nem de congressos, nem de departamentos, nem de comissões, nem de música rock cristã, nem sequer de bares cristãos. Ela não precisa de burocratas ou teólogos de biblioteca. Ela anseia por pastores e pregadores que pastoreiem e preguem todo o conselho de Deus, sem medo. Precisa de teólogos inteligentes e espirituais, enriquecidos pelo Espírito de Deus para reafirmarem a boa doutrina, sem temor. Precisa de soldados para a trincheira, não de políticos para os gabinetes climatizados.

Neste 494º aniversário da Reforma Protestante cumpre afirmar que esse legado foi praticamente enxovalhado, banido e manchado por uma quantidade temível de acrescentos mundanos e pagãos. Pseudo-louvor, pseudo-pregações e pseudo-tudo-um-pouco tem sido a ementa diária de uma Igreja Evangélica em busca da sua própria identidade. Não se prega mais, não se louva mais, não se ora mais. Tudo isto tem sido considerado irrelevante para a época e os doutoraços do tempo as têm substituído por paródias ridículas e, não fora a seriedade da questão, seriam um bom objecto de gargalhada recorrente. A estupidez amigável rouba o papel profético à Igreja. Ela se tem tornado mais um clube religioso onde, necessariamente, se lê a Bíblia uma vez por outra, onde se come, se bebe, nos entretemos, onde se proporciona um ambiente “agradável” aos descrentes, onde se gasta demasiado tempo, energia e dinheiro na “obra social”, onde abundam rockeiros, motards, e outras anedotas cristãs. Já não é a casa de oração, o Corpo de Cristo, o local cujo único objectivo lícito é o aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do Corpo.

A Verdade prega-se, comunica-se, não se negoceia. Muitas parvoíces na Igreja seriam evitadas se as doutrinas reformadas fossem não apenas ensinadas ou interpretadas, mas, essencialmente, aplicadas. Assim, Deus tendo sido “destituído” do seu lugar primordial nas actividades da sua Igreja é o mundo e a sua filosofia que têm ditado a agenda. “São do mundo, mas não estão no mundo”, parece ser o novo versículo revisto, actualizado e corrigido. Nova Reforma, precisa-se!

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