A verdade é que o cristianismo está em declínio na nossa cultura, uma cultura regressada ao culto pagão. Uma espécie de racionalismo ateísta oriundo das Luzes cuja sua ontologia nos leva a um evolucionismo diferente da hipótese emanacionista do tipo plotiniano ou bramânico, ou da criação ex-nihilo das religiões reveladas nas quais o Criador e a criação possuem essências radicalmente distintas e separadas. De acordo com esta ideia, a matéria evolui continuamente por si só e sem qualquer intervenção externa; isto ao ponto de se tornar mais complexa ao ponto de gerar a aparência espontânea da consciência e da mente. Nesta visão evolutiva de uma existência sem uma verdadeira causa espiritual primária – sem arkhè – a vida, a consciência e o espírito são apenas etapas sucessivas da mesma matéria autocriada e auto-organizada. Assiste-se a uma espécie de monismo invertido onde a matéria precede o espírito sendo que este último seria um estágio “evoluído” da matéria a qual está subjacente ao pensamento político, social e intelectual do Ocidente contemporâneo.
A decadência do cristianismo no Ocidente é um facto apesar do aparecimento contínuo e sistemático das chamadas Mega Igrejas
Nota-se a crescente e grande preocupação com a chamada “inovação”.
Prémios são atribuídos a igrejas inovadoras, os pastores são elogiados por
serem "inovadores", a “novidade” é a palavra de ordem. Se bem que não
haja nada de errado em tentar pensar “fora da caixa” quando se trata de
contextualização, mas não existe nenhum método inovador que alguma vez supere a
encarnação. Este é o próprio método de Deus para resolver a nossa necessidade!
É o que diferencia o cristianismo de todas as outras religiões. Em todas as
religiões assiste-se à busca de Deus pelo Homem; a singularidade no
Cristianismo é que trata de Deus a buscar o Homem. A iniciativa divina,
culminando na encarnação, sempre foi a forma mais inovadora do Cristianismo de
contextualizar o evangelho às reais necessidades da humanidade. Na verdade, poderia
afirmar que o nível de inovação na Igreja será sempre proporcional à
profundidade da sua visão sobre a encarnação. Dito de outra maneira, aprofunde
a encarnação e terá sempre inovação.
Temos assistido igualmente a uma grande ênfase nas igrejas
que desenvolvem percursos e processos. Processos e caminhos não são coisas más
em si. De facto, ter algo no lugar ajudará a mover as pessoas horizontalmente e
a mobilizá-las para a sua visão, organizar a sua instituição ou gerar
crescimento – pelo menos a um nível imediato. O problema desta metodologia é
que se assemelha ao modelo industrial de linhas de montagem muito mais do que a
igreja do Novo Testamento. O problema de ter um "processo" é que
tende a compartimentar o discípulo, apressando as pessoas através de estágios
que estão focados em algo específico. Para realizar a metáfora, há uma fase em
que se é engarrafado, outro onde se é rotulado, outro onde se é embalado, e
outro onde é entregue.
Os ambientes são mais holísticos. São espaços onde se
pratica uma “sempre a mesma variedade” de práticas com diferentes intensidades
dependendo do contexto do ambiente. Em Actos 2:42, os primeiros cristãos viviam
os quatro componentes (o ensino dos apóstolos, a comunhão, o partir do pão e da
oração) no contexto de encontros maiores, mais pequenos e enquanto ministravam no
exterior. Pensar em ambientes de discípulo é reconhecer que as pessoas não
devem ser movidas horizontalmente para um objectivo final, mas em todas as direcções
em simultâneo. Tais espaços permitem que o dinamismo do Espírito esteja
presente e actue preservando a natureza orgânica do corpo de Cristo. No modelo
industrial, uma vez que um produto passa por todas as fases necessárias - montado,
vendido e finalmente consumido - gera um sentimento comum àqueles que passaram
por um "processo".
É bom que as igrejas procurem formas de crescer. Afinal, uma
igreja local é um organismo vivo, e organismos saudáveis não só crescem como se
reproduzem. No entanto, pensar no crescimento em termos de um movimento maior
em toda uma cidade ou região em vez de esperar um resultado baseado num “plano
de marketing estratégico de crescimento” bem planeado para a sua igreja não é
apenas pensar de modo menos imperialista, mas significa também pensar maior e
não menor. É que as igrejas que "pensam movimento" imaginam o papel
que podem desempenhar lado a lado com outras igrejas locais enquanto o reino de
Deus avança na sua região ou cidade. Mudaram do "como podemos crescer em
influência nesta cidade?" para "Como pode o Reino de Deus crescer em
influência nesta cidade?" Recusam-se a ser tribais, territoriais,
arrogantes e dependentes da força da sua "marca". Percebem que o
poder não reside numa marca específica, mas numa profunda compreensão do Evangelho
presente na igreja em geral numa região. Há sempre uma colaboração (com outras
igrejas locais e ministérios da igreja) influenciada por um impulso para
concretizar as implicações do Evangelho para o ministério entre os seus próximos.
Esta visão é vista como algo a ser partilhado e como sendo propriedade não só
de uma igreja, ou de alguns ministros sentados no topo da escada clerical, mas
de todos.
Estas igrejas não estão necessariamente preocupadas com o
sucesso a curto prazo da sua igreja local particular (como empresas que estão
sempre apertando a linha de fundo no final de cada trimestre), mas com o
sucesso a longo prazo do Evangelho na sua cidade/região.
O plano da hierarquia eclesiástica está intimamente
relacionado com o assunto anterior, porque um movimento por natureza tem de ser
livre. "A diferença entre uma instituição e um movimento é que um
ultrapassa os limites enquanto o outro os guarda." (David Bosch). Os
movimentos prosperam quando a energia é distribuída o mais rápido possível. A hierarquia
da Igreja não se pode dar ao luxo de não delegar poder. Pelo contrário, as
instituições irão, logicamente, reter o poder como forma de auto-preservação. A
estrutura hierárquica torna-se assim a maior invenção para jogar o jogo de
defesa cerrada. A confiança de uma instituição é apoiada nas políticas e naqueles
que ocupam cargos, enquanto a confiança do movimento se baseia na confiança de
todos os que partilham uma visão comum. Vêem-se não só como colegas de
trabalho, mas como amigos e pares. O ambiente forjado torna-se aquele em que
existe um elevado nível de liberdade, mas também um elevado nível de
responsabilidade.
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