sexta-feira, 2 de setembro de 2022

"Deus está morto" (Nietzsche); "Nietzsche está morto" (Deus)

 Nietzsche e a morte de Deus. O que ele faz é mostrar para o homem moderno que Deus está morto e que nós todos somos os assassinos. Traz a luz sobre uma realidade incontornável do próprio movimento do esclarecimento, a saber, o Homem moderno é quem colocou o mundo e a História sob o signo da razão esclarecida, que abomina qualquer tipo de subjugação, de vassalagem, que é a razão absoluta da autodeterminação. Ora, manter Deus seria manter essa tal atitude de subordinação. Não admira, portanto, que Nietzsche erija a ciência moderna, ateísta por vocação, como uma espécie de emancipação humana anteriormente submissa ao divino e transcendente.

O problema então reside na própria natureza humana que por um lado deseja essa total emancipação e por outro manifesta continuamente a necessidade da protecção de um qualquer absoluto, de um jeito esquizofrénico ele deseja uma coisa e o seu oposto. O Buda morreu, mas a sua sombra continua a aparecer no fundo da caverna e através dos séculos o Homem continua a buscar a caverna para contemplar a sombra do deus morto que o sossega e conforta na sua necessidade do absoluto, de consolo, em última instância através de uma redenção, ou salvação, ontologicamente um absoluto. Rejeitando o transcendente, o Homem entregue à sua razão esclarecida e insubordinada que a tudo tenta dar um sentido, tenta construir a sua relação com o mundo e os outros de maneira a poder erradicar qualquer tipo de opacidade ou dominação sobre o outro. Uma das características do Niilismo é precisamente apresentar elementos que aparentemente são o seu contrário, mas que na verdade sustêm a sua essência. Uma utopia e como todas as utopias um produto do movimento da morte de Deus.

O que Nietzsche denuncia é que uma vez esse movimento de emancipação colocado em marcha não há maneira de o travar, ele terá de alcançar as sua consequências últimas e uma delas é a supressão de valores cardinais absolutos. Quando isso acontece é precisamente a altura em que o Homem sedento do absoluto vai sacralizar o profano, acção essa que gera os fundamentalismos, o que na sociedade moderna se apresentam como o consumismo, o hedonismo, o colectivismo, o libertarianismo, tudo apresentado como epílogo da felicidade suprema. Condenado a ser livre (Sartre) A liberdade é incondicional e é isso que ele quer dizer quando afirma que estamos condenados a sermos livres: "Condenado porque não se criou a si próprio; e, no entanto, livre, porque uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer”.



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