sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Conservadorismo?

Somos frequentemente colocados diante de escolhas sociais, teológicas, morais e, inevitavelmente, põe-se a questão clássica da opção entre o que "sempre foi" e o "que é novo", ou melhor compreendido, entre o tradicional e o progressista.

Existe a ideia que o novo é bom. Este é o núcleo do pensamento progressista cuja evolução da Humanidade assenta primordialmente, senão exclusivamente, na marcha inexorável da História rumo a um mundo novo e melhor. Através de uma revolução, armada ou não, mas sempre com o factor violência subjacente. Violento porque existe sempre uma violência na imposição do "novo", do "progressista" que subentende sempre o abandono do "velho", do "tradicional". É assim na sociedade e tem sido assim na teologia e práticas eclesiásticas: o "moderno" como norma ontológica da Verdade. O que é novo é bom, seja lá o que for.

Gostaria de citar um filósofo leigo de nome Roger Scruton que no bem conhecido seu livro "Como ser um Conservador", no capítulo sobre o conservadorismo ele escreve: "O processo pelo qual os seres  humanos adquirem a própria liberdade também constrói vínculos afetivos, e as  instituições da lei, do ensino e da política são parte disso — não coisas que  escolhemos livremente a partir de uma posição de distanciamento, mas coisas  pelas quais conquistámos nossa liberdade e sem as quais não poderíamos existir  como agentes plenamente auto-conscientes.", ou seja, o processo através do qual os humanos conseguem erigir seus princípios de vivência e assim habitar em sociedade não parte de pensamentos a priori, mas do resultado de experiências vividas anteriormente e testadas ao longo do tempo.

E continuo com C. S. Lewis, mas como poderá um sistema imutável sobreviver ao contínuo crescer de conhecimento? Como poderá o antigo sobreviver ao moderno? Em certos casos podemos aceitar plenamente esta não-polémica: no erudito que estuda Platão e que, num momento, descortina a beleza literária, a metafísica e o seu lugar na História, e a posição bem diferente do aluno que ainda estuda o alfabeto grego. Através desse imutável sistema que é o alfabeto todo esta vasta e emotiva actividade tem lugar. Se este sistema fosse mudado seria o caos. Ou um estadista considerando a moralidade de medidas políticas que visam o bem comum e que poderão afectar milhões de cidadãos que se encontra numa posição bem diferente de uma criança que aprende desde cedo que roubar é feio. Mas é apenas enquanto o estadista considera a validade de princípios morais imutáveis, como a criança, que as medidas por si tomadas podem ser consideradas morais.

Porque a mudança não poderia ser considerada progresso se o seu núcleo não permanecer imutável. Uma pequena macieira transforma-se numa grande macieira. Se se transformasse numa pereira não seria crescimento, ou progresso, mas uma mera mudança. Porque existe uma diferença entre contar peças de fruta e chegar a resultados matemáticos complexos mas a tabuada e as regras de aritmética usadas em ambas as acções permanece a mesma, inalterável.

As regras da possibilidade de progresso exigem a existência de um elemento imutável. Novos odres para o novo vinho, mas não novos paladares, novos estômagos ou novas gargantas. De outra maneira não mais seria vinho para nós.







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