Somos frequentemente colocados diante de escolhas sociais, teológicas, morais e, inevitavelmente, põe-se a questão clássica da opção entre o que "sempre foi" e o "que é novo", ou melhor compreendido, entre o tradicional e o progressista.
Existe a ideia que o novo é bom. Este é o núcleo do pensamento progressista cuja evolução da Humanidade assenta primordialmente, senão exclusivamente, na marcha inexorável da História rumo a um mundo novo e melhor. Através de uma revolução, armada ou não, mas sempre com o factor violência subjacente. Violento porque existe sempre uma violência na imposição do "novo", do "progressista" que subentende sempre o abandono do "velho", do "tradicional". É assim na sociedade e tem sido assim na teologia e práticas eclesiásticas: o "moderno" como norma ontológica da Verdade. O que é novo é bom, seja lá o que for.
Gostaria de citar um filósofo leigo de nome Roger Scruton que no bem conhecido seu livro "Como ser um Conservador", no capítulo sobre o conservadorismo ele escreve: "O processo pelo qual os seres
humanos adquirem a própria liberdade também constrói vínculos afetivos, e as
instituições da lei, do ensino e da política são parte disso — não coisas que
escolhemos livremente a partir de uma posição de distanciamento, mas coisas
pelas quais conquistámos nossa liberdade e sem as quais não poderíamos existir
como agentes plenamente auto-conscientes.", ou seja, o processo através do qual os humanos conseguem erigir seus princípios de vivência e assim habitar em sociedade não parte de pensamentos a priori, mas do resultado de experiências vividas anteriormente e testadas ao longo do tempo.
E continuo com C. S. Lewis, mas como poderá um sistema imutável sobreviver ao contínuo crescer de conhecimento? Como poderá o antigo sobreviver ao moderno? Em certos casos podemos aceitar plenamente esta não-polémica: no erudito que estuda Platão e que, num momento, descortina a beleza literária, a metafísica e o seu lugar na História, e a posição bem diferente do aluno que ainda estuda o alfabeto grego. Através desse imutável sistema que é o alfabeto todo esta vasta e emotiva actividade tem lugar. Se este sistema fosse mudado seria o caos. Ou um estadista considerando a moralidade de medidas políticas que visam o bem comum e que poderão afectar milhões de cidadãos que se encontra numa posição bem diferente de uma criança que aprende desde cedo que roubar é feio. Mas é apenas enquanto o estadista considera a validade de princípios morais imutáveis, como a criança, que as medidas por si tomadas podem ser consideradas morais.
Porque a mudança não poderia ser considerada progresso se o seu núcleo não permanecer imutável. Uma pequena macieira transforma-se numa grande macieira. Se se transformasse numa pereira não seria crescimento, ou progresso, mas uma mera mudança. Porque existe uma diferença entre contar peças de fruta e chegar a resultados matemáticos complexos mas a tabuada e as regras de aritmética usadas em ambas as acções permanece a mesma, inalterável.
As regras da possibilidade de progresso exigem a existência de um elemento imutável. Novos odres para o novo vinho, mas não novos paladares, novos estômagos ou novas gargantas. De outra maneira não mais seria vinho para nós.
Teologia e Apologética Cristã em Portugal. Reflexões bíblicas e sociais à luz das Escrituras.
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
E conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará
“Todos os homens nascem livres e iguais em direitos ” , trata-se do primeiro artigo da declara çã o universal dos direitos humanos e é a no...
-
Ninguém pode, em toda a honestidade, negar a realidade de uma crise na Igreja da Europa. O fechar os olhos à crise eclesiástica não é uma pr...
-
Grande parte dos argumentos apresentados pelos proponentes de mudanças drásticas na liturgia, música e estilo na Igreja de Cristo provêm...
-
Não que não seja n ada a que não estejamos habituados neste pobre país tão rico em cultura, mas tão pobre em princípios. Segundo noticiado n...
Sem comentários:
Enviar um comentário