sábado, 18 de novembro de 2017

O género


Compreender as raízes e objectivos da denominada ideologia do género passa necessariamente por entender o que se conhece por marxismo cultural, ou a teoria crítica da sociedade. O ensino neomarxista, ou marxismo ocidental, a teoria crítica da sociedade, é considerado o conjunto das correntes nascidas nos anos vinte do século XX, em torno das teses de Gyorgy Luckács (1885-1972), Karl Korsch (1896-1961), Ernst Bloch (1885-1977), e Antonio Gramsci (1891-1937). O essencial do modelo está na tese de Antonio Gramsci (comunista italiano) sobre a sociedade civil, considerada como o domínio das superstruturas culturais e ideológicas. O mal não reside no indivíduo, bom por natureza, mas tão somente no sistema instalado, a saber a civilização ocidental burguesa e cristã. Contrariamente ao marxismo tradicional que visa a tomada do poder directamente através da luta armada pelo proletariado, os proponentes do neomarxismo acreditam que a cultura ocidental não pode ser atacada de frente, como o tentou sem êxito o comunismo tradicional, mas precisa de ser implodida, anónima e gradualmente Não segundo a via estalinista, mas disfarçadamente. Gramsci propõe o “Admirável Mundo Novo” de Huxley, com a mudança do indivíduo a partir do seu interior, e não o “1984” de Orwell onde a monitorização e vigilância do Big Brother não impedem a consciência de se proteger. Embora haja diferenças entre o conceito de Marx para o qual a arena decisiva da luta de classes era o controlo dos meios de produção (sub-estrutura) e não a batalha de ideias e que os ataques à cultura por parte dos neomarxistas denotasse um abandono do marxismo original, vamos chamar a esta escola de Marxismo Cultural dado que este nome é o comummente usado e trás consigo a ideia da transformação da sociedade através de uma revolução pelas colunas da cultura.

 Para implementar a sua ideologia Gramsci descobriu os três pilares culturais ocidentais que teriam de desabar: a ética judaico-cristã (fé no Deus de Israel), a filosofia grega (a razão filosófica, a razão aristotélica é considerada uma prática burguesa) e o direito romano (pensamento jurídico). A actual batalha cultural expressa-se na destruição destes três fundamentos (curiosamente o apóstolo Paulo expressava-se dentro destes paradigmas, pela sua fé, seu raciocínio lógico, sua defesa enquanto cidadão romano). Consegue-se descortinar as actuais tentativas modernas de abolição destes três pilares se considerarmos a luta contra o Cristianismo e seus princípios morais, a oscilação do pensamento lógico para um niilista, existencialista, a polilogia típica do pensamento marxista e a subversão do direito que introduziu a codificação, a questão dos bens, das sucessões, entre muitas outras indispensáveis ao actual sistema capitalista. 

 Com a gradual queda do conceito de classe operária oprimida, ou proletariado, e a ascensão da classe média devido ao avanço do sistema capitalista, o marxismo cultural cuja agenda é o  desencadear uma revolução precisamente através da classe proletária oprimida no sentido de transformar o mundo pela eliminação de classes sociais, das desigualdades, da classe dirigente opressora, teve de encontrar novas “classes” de oprimidos, uma nova bandeira, a fim de fazer avançar a sua luta ideológica. Inventou-se assim o termo “excluídos”. Todo o ser humano se sente excluído de algo e isso sempre provoca insatisfação. Este é o combustível ideal para a revolta ideológica do marxismo. E que maior revolta pode haver do que a sociedade conservadora moldada pela moral judaico-cristã discriminar as escolhas sexuais individuais? Sob pretexto de justiça e equidade, virtudes essencialmente cristãs, os inimigos do cristianismo apoiam-se precisamente nelas para destruir o que as concebeu.  

 A ordem da Criação mesmo antes da queda no Éden já preconizava o trabalho, a família, o governo, a diferença de sexo, a autoridade. “Macho e fêmea (Deus) os criou”, relatam as Escrituras. Existe no desígnio divino uma clara distinção de género e embora essa distinção diante de Deus se apague (Gálatas 3.28), não é menos verdade que ela existe. Os principais mandamentos da ideologia do género, na sua tentativa de implementar uma nova crença progressista e anti-cristã, consistem na premissa que não há diferenças entre homens e mulheres, no libertar a mulher da opressão de uma sociedade patriarcal, emancipá-la da “discriminação”, que o papel tradicional da mulher no lar seria apenas uma construção social burguesa; o sexo biológico é modificável, é um dado transitório e maleável que pode ser transformado de acordo com a opção de cada um; a família nuclear e tradicional é um estereótipo, a família natural, segundo os ideólogos do género, será apenas uma norma social baseada na antiga opressão do homem sobre a mulher agora superado pela abstracção do género, o plural “famílias” passa a ser obrigatório e na lista entram, obviamente, todos os relacionamentos “poli-afectivos” redimidos da sexualidade tradicional; a paternidade é “dessexualizada”, se a família natural não passa de uma construção social, a consequência será a paternidade dessexuada. Os filhos deixam de ser fruto de uma sexualidade entre macho e fêmea para serem artificialmente concebidos In Vitro, em barrigas de aluguer. Falar da educação dos filhos por um casal homem-mulher é considerado ofensivo, porque tradicional e burguês. Os casais homossexuais são doravante erigidos em modelo de educação, não obstante as sérias objecções daí decorrentes; a classe falante (Pierre Bourdieux), os meios de comunicação social, são conquistados por uma minoria que eclipsa totalmente uma maioria mais conservadora e tradicional que não tem quem a represente e, consequentemente, é provocada a impressão de que a maioria conservadora é na verdade uma minoria. Existe uma óbvia tentativa de eliminar o cristianismo e substituí-lo por uma religião baseada no racionalismo e determinismo histórico, tendo o Estado omnipresente e omnipotente como seu deus e uma elite auto-eleita como seus profetas. O paraíso seria aqui e agora, na Terra, proposto por novos princípios humanistas, racionalistas e condicionados pela marcha inexorável do determinismo histórico.  

 O Marxismo Cultural, neste caso, trata-se de mais uma religião. Uma autêntica devoção com os seus dogmas, os seus profetas, o seu deus (o Estado), o seu paraíso (a Terra sob o marxismo globalizado). Ele é sempre um programa global, universal e necessita também de uma religião global e universal, ecuménica. As profecias serão cumpridas e o Cristianismo terá de ser globalmente ostracizado, cristianismo que está na origem da liberdade individual, do trabalho meritório, do direito à propriedade privada, do direito à vida, da ideia do pecado, da Lei Natural, da família tradicional base da sociedade. Gramsci entendeu claramente que  enquanto o cristianismo não fosse destruído e permanecesse uma tradição vincada no Ocidente não haveria nenhuma revolução proletária. A História o comprovou.

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