segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A igreja contemporânea e a boa doutrina

igrejamodernaCerto dia, indo eu a um culto na igreja local, conversando com um crente, daqueles já velhinhos, cuja fé fervorosa e simples sempre foi um ensino e um motivo de humilhação para a minha fraca fé, por vezes desequilibradamente intelectual e reflectiva, ele disse: “Ouvi uma vez um missionário dizer que tinha ido ao mundo procurar a Igreja e não a encontrou; dirigiu-se então a uma igreja e aí encontrou o mundo”. Apesar de não poder confirmar a veracidade deste episódio, a mesma afirmação não deixa de fazer pleno sentido ao verificar o “estado” em que o meio evangélico se encontra neste começo do século XXI.

É uma constatação simples de ser observada o facto de que não somente os padrões morais que, há 20 ou 30 anos, eram indiscutivelmente cristãos e pelos quais se conseguia traçar uma fronteira entre o mundo cristão/evangélico e o não-cristão não mais existem ou apenas foram relegados para a prateleira do relativismo, mas que, igualmente, a doutrina pregada e anunciada tem sofrido um ataque perigoso e poderoso não apenas do meio intelectual e social, mas, mais perigoso e profundo, do interior da própria Igreja e seus dirigentes. O namoro dos crentes e seus líderes com a filosofia utilitária tem tornado a Igreja numa arena de show-off, digna dos mais medíocres programas da TV, em que o importante é o estilo, o entretenimento em detrimento da apresentação da Verdade.

Ansiosos pelo aumento do número de assistentes por um lado, e, mais importante, pressionados pela congregação onde se incluem a sua família, os pastores são invariavelmente tentados a considerar novas técnicas, ou modos, de encher as suas igrejas. Temendo que os seus descendentes de sangue um dia abandonem a igreja e mergulhem no mundo, os pastores simplesmente preferem trazer o mundo para dentro da sua igreja e aí manterem os seus filhos, netos. O argumento é clássico: “não devemos ser tão rigorosos”, “os tempos hoje são diferentes” e outros argumentos da espécie. Afim de chamar mais elementos para as fileiras e manter os que lá estão, os dirigentes evangélicos abrem mão do tal “rigor” moral e doutrinário que está sempre na base da pureza da igreja. Porque este rigor é absolutamente incompatível com as técnicas de marketing que fazem do cliente e suas necessidades o alvo último de qualquer acção comercial. Tendo a congregação como cliente é fácil de entender a derrapagem sofrida por muitas congregações evangélicas.
Troca-se a mensagem da cruz, do inferno, do pecado, do arrependimento e da santificação por algo mais “light”, com menos “calorias”, mais “simplex”. Apregoa-se um evangelho fácil, uma graça barata, um discurso motivador que evite ofender as pessoas que, actualmente, são altamente viciadas em auto-estima, a nova droga da sociedade. Pretendemos fazer da igreja um sítio onde os crentes não sejam muito confrontados e desafiados, onde possam exercer as suas actividades religiosas sem grande custo, onde ouçam o que querem ouvir, que possam fazer o que querem fazer. Fazemos da igreja um sítio onde os descrentes se sintam “em casa”, onde Deus é pregado como uma pessoa “fixe”, permissiva, pacata, sempre pronto a perdoar e, tal como uma gigantesca Segurança Social, sempre pronto a atender as necessidades das pessoas aqui e agora. Não se fala de pecado, de castigo, de inferno. Aliás, a doutrina do inferno e da depravação humana até já é questionada como verdadeira por muitos destes modernos dirigentes. E os que não a questionam também já dela não falam muito.

As mensagens práticas e divertidas, o entretenimento e a diversão são agora as técnicas modernas de evangelização. Teatros, concertos de rock “cristão”, bares “cristãos” e outras práticas mundanas travestidas e etiquetadas de “cristão” são o último grito dos crentes contemporâneos. “Não precisamos de teologia, precisamos de amor”, proclamam eles, “precisamos de mostrar amor por aqueles que não conhecem Deus”, é a sua razão. Nota-se uma gritante deficiência no catecismo destes indivíduos que não leram que o amor divino, aquele que queremos transmitir, é o resultado da observância da lei de Cristo e que o fim desta lei é o amor de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé não fingida. Por outro lado, devo afirmar que a Igreja é o último local onde o pecador deve estar à vontade! Porque as trevas não podem ter comunhão com a luz. Mal está uma igreja quando aí os pecadores se sentem como “peixe dentro da água”; quando o pecado não é confrontado e ajuizado; quando a igreja se torna amigável para o mundo pecador. A Igreja não existe para atrair os incrédulos, mas para que os crentes se juntem a cultuar Deus. Os incrédulos aí são atraídos por Deus para serem confrontados com a sua natureza pecaminosa e, ou se arrependem, ou não querem lá mais voltar.

Produz resultados? Este é o barómetro pelo qual se avalia uma ou outra técnica de evangelização sem, contudo, se definir primeiro o que se entende por resultado segundo os padrões divinos. Isto acontece porque o mundanismo crescente na Igreja evangélica gerou a sua filha “incredulidade doutrinária” que namora com um rapaz chamado relativismo. Resultados hoje são primordialmente quantitativos, não qualitativos; são visíveis, enchem o Ego, tangíveis e comparáveis. A metodologia do crescimento da Igreja é hoje visto como “fenomenológica” e não “teológica”, ela é fruto de um esforço humano e racional (Arminianismo) e não mais como uma questão de luta espiritual com as armas que nos são fornecidas por Deus. Como muitas pregações cujo comprimento compensa a falta de profundidade, assim são estas igrejas modernas, mundanas e enganadas. Ao invés de olhar para o que produz resultados o pastor ou ancião da Igreja deveria olhar mais para o que a Bíblia ordena. Muitas heresia seriam evitadas se a proclamação da verdade, vulgo PREGAÇÃO, tivesse um papel central e preponderante nos cultos, pois pela pregação do Evangelho os crentes são santificados e os descrentes são salvos. Pela pregação a Igreja cresce em graça e em estatura.

JP

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