segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Eu acredito na Verdade!

Are_You_Telling_The_Truth(1) “O que é a verdade?”, perguntou Pilatos não reconhecendo a Verdade quando a tinha diante dos seus olhos. Então, afastou-se sem esperar pela resposta. Sem dúvida, como muitos dos nossos modernos pensadores, Pilatos acreditava que tal questão era, simplesmente, passível de não ser respondida e além do alcance do mero ser humano.
O que é a Verdade? Na situação contemporânea a pergunta soa como uma questão fora de moda, poeirenta e desusada. Claro que o conceito da Verdade não tem sido ignorado nem definitivamente negado, mas é estranho considerar como o mesmo conceito tem sido tratado nesta geração. A Verdade tem sido deslocada da esfera do facto para a da fantasia; tem sido relegada como uma simples questão de opinião, uma experiência psicológica ou a simples expressão de um preconceito.
Tem sido movida para o mais alto nível da especulação filosófica onde apenas pode ser expressada na mais esmerada linguagem técnica e académica. Outros afirmam que a Verdade não pode ser expressa, mas apenas aceite em silêncio. Numa Babel intelectual todas as vozes têm de ser iguais e não somente tudo deve ser questionado, mas também todas as respostas devem ser negadas. Com efeito, encontramo-nos numa situação singular: se eu declaro conhecer a verdade exponho-me a todo o tipo de acusações de intolerância e dogmatismo.

Assim, a Verdade têm vindo a tornar-se mais elusiva que uma agulha num palheiro. Mas embora mitos pensadores não mais acreditem na existência da agulha, todavia ainda mergulham alegremente na palha; afinal de contas, é menos perigoso trabalhar apenas com a palha- as agulhas podem ser perigosamente picantes e afiadas. Assim sendo, a busca no palheiro continua na esperança que se consiga evitar a agulha da Verdade, pois se ela fosse encontrada ter-se-ia que que a aceitar e submeter-se a ela.
Descartes, o pai da filosofia moderna, tentou, na base do racionalismo, provar que nenhuma ideia deveria ser aceite como verdadeira se não estivesse distinta e claramente fora de dúvida. Colocou o seu método em pratica  e mostrou ser possível duvidar de tudo – excepto que ele estava a pensar. Assim, Cogito Ergo Sum – Penso, logo existo. No entanto,duvidando de tudo, Descartes foi incapaz de colocar a certeza na sua própria afirmação, ou de outra forma, “Penso, logo penso que existo”.
Hume refinou o elemento da dúvida em puro cepticismo. Revelou que, em última análise, não podemos estar certos de nada, nem da nossa própria existência; temos de ser cépticos sobre todas as conclusões que advêm quer do uso da razão, quer da experiência, quer dos sentidos. Apesar do esforço dos outros filósofos a posteriori, as sementes da dúvida foram profundamente enraizadas no pensamento ocidental.
Nestas aguas turvas, Freud atirou uma pedra no charco que os filhos do Iluminismo ainda tentam ignorar ou, abraçando-a, encontrar-se-iam afogando sem esperança. Freud mostrou que o ser humano não é uma máquina fria pensante, capaz de juízo imparcial ou pensamento objectivo, mas é um ser governado por impulsos escondidos e forças poderosas que não consegue nem controlar, nem compreender totalmente. Assim, torna-se um sintoma patológico ou uma desordem psicológica o facto de sugerir que o que se pode conhecer é objectivamente verdadeiro ou falso. O que se torna importante é o porquê se acredita e não se é verdadeiro ou falso.
Confesso que tenho sofrido um pouco deste mal da “influência do ambiente”, segundo Freud, pelo qual a minha percepção da realidade é distorcida pelo que vivi, pelo que vi e pela maneira segundo a qual fui educado. Muitos amigos, pregadores de uma teologia ou teoria mais liberais, acusam-me, frequentemente, da minha carga tradicionalista no que respeita a assuntos teológicos e sociais. Quando descobrem como foi a minha educação faz-se luz nos seus espíritos. Descobrem a sua verdade. O mistério foi resolvido pela teoria da influência ambiental e justificam o meu “erro” das minhas crenças numa Bíblia inerrante e infalível, na crença nos milagres, na Criação. É tudo uma questão de condicionamento social e influência parental. Assim, a minha verdade torna-se relativa e irrelevante para eles. Parece uma vitória de Freud sobre o senso comum. O que se torna mais doloroso de suportar é a constatação que essas mesmas pessoas se sentem insultadas quando eu me atrevo a sugerir que, afinal, a sua oposição às minhas crenças e a sua aderência a pensamentos liberais e relativistas não é, efectivamente, nem mais nem menos que o resultado de condicionamentos sociais e influência parentais e que me sinto obrigado a pensar das suas verdades o que eles pensam da minha. Nos seus próprios termos tal argumento seria tão válido como o seu contrário. Nessa altura, sou relegado para o canto dos intolerantes, dogmáticos e fundamentalistas, ou o que quer que seja que esses termos possam significar.
Na situação moderna a Verdade parece ter sida colocada fora da cena. Os filósofos analíticos tentam catalogar todas as afirmações em categorias “com sentido” e “sem sentido” em que apenas as que sejam verificadas podem ser consideradas como verdadeiras ou falsas. A sua teoria parece ter provido o pensamento de uma escala de medida para a Verdade e, simultaneamente, abolido as perturbantes questões metafísicas sobre Deus, eternidade, milagres, moralidade e outras. Infelizmente, abolindo a metafísica, eles não somente atiraram “borda fora” toda a filosofia, mas igualmente toda a ciência tornando as afirmações científicas como “sem sentido”. Claro que a lógica positivista falhou pela simples razão que ela não pode verificar o seu “princípio de verificação”, assim como a ciência não pode sugerir que uma afirmação científica é verdade porque a ciência assim o diz. Torna-se um argumento de “pescadinha-de-rabo-na-boca”.
Sem querer falar do Existencialismo creio ser mais razoável aceitar a simplicidade de aceitar a crença na Bíblia do que nas complexas adições, divisões e subtracções dessas inúmeras teorias que tentam explicar Deus e o Homem. Pilatos não queria saber a resposta à sua pergunta, assim como os modernos gostam de procurar, mas não querem encontrar. Encontrar e reconhecer o encontrado significa obediência, submissão e renegação. E isto o Homem não quer. Ele quer ser como Adão quer ser como Deus.

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