A teoria de uma conspiração
universal destinada a estabelecer uma nova ordem mundial não é propriamente uma
novidade. Essa tendência, de uma maneira ou de outra, já teve eco em quase
todas as eras. Desde os primórdios da humanidade que o Homem sonha a conquista,
a dominação, o estabelecer a sua própria ordem e regras. Os impérios, as
colonizações são meras sombras de uma vontade inata de subjugar o Homem pelo
Homem, de fazer prevalecer, a maior parte das vezes pela força, os usos e
costumes do mais forte retirando daí dividendos materiais, sociais e morais.
O que distingue a sede de
conquista do antes e do agora é a sua universalidade e meios disponíveis.
Universalidade porque o planeta está encurtado devido à proximidade facultada sobretudo
e principalmente pelos meios de comunicação. Quando a figura do Cristiano
Ronaldo se torna mais familiar que a do nosso vizinho do lado então é porque
alguma coisa de inédito se está a passar. São estes mesmos meios
disponibilizados por uma “sociedade onde
o poder é inseparável da riqueza e a riqueza é inseparável da velocidade. Não
poder democrático, mas poder domocrático – do grego dromos, corrida – e toda a
sociedade é uma sociedade de corrida” (Paul Virilio) que está fazendo desta
sociedade uma sociedade cosmopolita global. Mesmo a democracia deve a sua
expansão à influência do progresso das comunicações a nível global.
Daí que o comunismo soviético apostando os seus esforços nas empresas estatais e indústria pesada, deixou de ter condições para competir na economia electrónica global. Igualmente, o controlo ideológico e cultural exercido pelas autoridades políticas comunistas deixou de sobreviver numa época de informação global (Anthony Giddens). Mais flagrante são as movimentações populares nos países árabes convocadas, na sua maioria, pelas redes sociais. Não é por acaso que até a presidência dos Estados Unidos quis fazer passar uma lei em que se permitia bloquear a Internet em caso de emergência nacional. Como a TV. O grupo português “Táxi” tinha razão ao cantar “quem vê TV, sofre mais que no WC”. É que a televisão, ou a caixinha idiota, ou a chewingum dos olhos – que se vê como se mastiga uma pastilha elástica, que se usa e deita fora, mecanicamente – a par com a Internet, é a grande unificadora electrónica. Ela até, de certo modo e a par do computador, substituiu o relógio como o dispositivo mais importante da sociedade para marcar o tempo ou estabelecer um ritmo. A TV é quase tudo e tudo o que não pertença ao universo televisivo não é relevante, ou é tão-somente residual. A TV adormece as consciências tornando o entretenimento e o dinheiro fácil de adquirir por meio de um qualquer concurso, tornando o futebol, cada vez mais, uma faixa mais importante do menu televisivo. Neste sentido ela funciona com um qualquer partido político: ambos dão ao público o que ele quer, não o que ele precisa, gera sonhos de uma sociedade perfeita e de abundância (João de Almeida Santos). Assim, inicia-se uma correria louca à caça de imagens nunca suficientes para saciar a vontade do Homem pós-moderno. Patologicamente agitado diante da imagem electrónica, ele sofre de uma ansiedade sem precedentes, sempre pronto a absorver a rápida e permanente sequência de imagens, imagens essas que valem mais pela sua intensidade impressiva que pelo seu significado. A questão é que esta comunicação é apenas feita num sentido: na TV poucos falam e são milhões o que escutam. Quem a dominar dominará quem dela se alimentar!
Daí que o comunismo soviético apostando os seus esforços nas empresas estatais e indústria pesada, deixou de ter condições para competir na economia electrónica global. Igualmente, o controlo ideológico e cultural exercido pelas autoridades políticas comunistas deixou de sobreviver numa época de informação global (Anthony Giddens). Mais flagrante são as movimentações populares nos países árabes convocadas, na sua maioria, pelas redes sociais. Não é por acaso que até a presidência dos Estados Unidos quis fazer passar uma lei em que se permitia bloquear a Internet em caso de emergência nacional. Como a TV. O grupo português “Táxi” tinha razão ao cantar “quem vê TV, sofre mais que no WC”. É que a televisão, ou a caixinha idiota, ou a chewingum dos olhos – que se vê como se mastiga uma pastilha elástica, que se usa e deita fora, mecanicamente – a par com a Internet, é a grande unificadora electrónica. Ela até, de certo modo e a par do computador, substituiu o relógio como o dispositivo mais importante da sociedade para marcar o tempo ou estabelecer um ritmo. A TV é quase tudo e tudo o que não pertença ao universo televisivo não é relevante, ou é tão-somente residual. A TV adormece as consciências tornando o entretenimento e o dinheiro fácil de adquirir por meio de um qualquer concurso, tornando o futebol, cada vez mais, uma faixa mais importante do menu televisivo. Neste sentido ela funciona com um qualquer partido político: ambos dão ao público o que ele quer, não o que ele precisa, gera sonhos de uma sociedade perfeita e de abundância (João de Almeida Santos). Assim, inicia-se uma correria louca à caça de imagens nunca suficientes para saciar a vontade do Homem pós-moderno. Patologicamente agitado diante da imagem electrónica, ele sofre de uma ansiedade sem precedentes, sempre pronto a absorver a rápida e permanente sequência de imagens, imagens essas que valem mais pela sua intensidade impressiva que pelo seu significado. A questão é que esta comunicação é apenas feita num sentido: na TV poucos falam e são milhões o que escutam. Quem a dominar dominará quem dela se alimentar!
Uma Nova Ordem mundial
confunde-se, de certo modo, com as profecias apocalípticas: um senhor, uma
ordem, uma lei. Semelhantemente, esta nova ordem mundial é também evocada por outros
“profetas” que sentem o convergir de ideias e tendências, todas elas, no
entanto, impregnadas de escatologia salvífica. Assim temos Alvin Toffler com a
sua Terceira Vaga (apesar de, mais recentemente, já ter discernido uma quarta!),
o movimento conhecido como o da Nova Era (New Age), ou mesmo o Quinto Império
português, ou o Império do Espírito Santo (Fernando Pessoa, Agostinho da Silva),
ou a Terceira Idade do Mundo, segundo Joaquim de Fiore (a idade do Pai
transcendente e exterior ao Homem que corresponde ao Antigo Testamento, à Lei;
a segunda que é a idade do Filho, a de Cristo, imanente ao Homem, plena de amor
universal e correspondente ao Novo Testamento, ao Cristianismo clássico; e a
terceira idade, a do Espírito Santo, reino de harmonia entre Deus e o Homem).
A sociedade saída do Renascimento
e da Reforma do século XVI, baseada em princípios ora da liberdade natural, ora
da liberdade concedida por Deus, alegadamente sólida, racional e humanista,
essencialmente imperialista que se tornou o acelerador do desenvolvimento
industrial, possuía características humanistas cuja ordem parecia eterna. Todavia,
o desmoronamento da cosmologia antiga – leia-se cristã – e o surgir de um
questionamento inaudito da autoridade eclesiástica gera a idade moderna, o
convite aos seres humanos em adoptarem uma atitude permanente de dúvida e
espírito crítico incompatível com o clero, a confiança cega numa ciência que
fragilizava cada vez mais a religião cristã e as descobertas científicas
recentes e, aparentemente, fiáveis que invalidavam a ideia de um cosmos
harmonioso, justo e bom e que, consequentemente, revogavam que esse mesmo
cosmos pudesse continuar a ser o modelo sob o plano ético desorientavam os
humanos que, doravante, tiveram que encontrar por si próprios e, talvez, em si
próprios (daí o termo humanismo que
designa a época em que o Homem se encontra novamente só, privado da ajuda de
Deus e do cosmos) as novas referências sem as quais será impossível de viver
livre e sem medo. Paradoxalmente, foram os portugueses com o seu ímpeto
missionário – que até era louvável não fora a ganância que havia por trás - os
primeiros (depois de Marco Polo) a dar a conhecer ao mundo novas sociedades que
“funcionavam” bem, que eram morais, mas sem a presença do Deus do cristianismo
ocidental e que lançaram o germe dessa oposição às tradições cristãs tão
arraigadas na sociedade de então. “Mais que o “bom selvagem”, que o sábio
egípcio, que o árabe maometano, que o turco ou o persa guerreiros, o filósofo
chinês encanta os que clamam e anseiam pela vinda de uma Nova Ordem” (Paul
Hazard).
Esta Ordem moderna também viu o
seu crepúsculo. Os “pós-modernos” irão atacar as duas convicções mais fortes
que animavam os “modernos” do século 17 ao século 19: que o ser humano é o
centro do mundo, o princípio dos valores morais e políticos; que a razão é uma
tremenda força emancipadora e, graças a ela e ao progresso das “Luzes”,
viveremos felizes para sempre. Assim, esta nova corrente de pensamento vai,
simultaneamente, questionar esses dois postulados: o racionalismo e o
humanismo. É com Nietzsche que esta crítica atingirá o seu auge. Os modernos
destituíram o Cosmos e criticaram as autoridades religiosas substituindo-as
pela razão e liberdade humanas, pelo ideal democrático e humanista dos valores
morais baseados na humanidade do Homem que o distinguia de todas as outras
espécies vivas. Eles fizeram tábua rasa de todas as tradições e heranças do
passado. Assim, eles – e especialmente Descartes sacralizando o espírito
crítico nas suas obras – libertaram um espírito crítico o qual, uma vez em
acção, nada consegue detê-lo. “A razão e os ideais humanista ficarão entregues
a si próprios e o mundo intelectual que edificaram acabará por se transformar
numa vítima dos seus próprios princípios” (Luc Ferry).
Immanuel Kant já havia
representado o divisor de águas do pensamento moderno. O pensador e filósofo
cristão R. C. Sproul vai mesmo ao ponto de afirmar que a revolução filosófica
criada por Kant pode ter tido um impacto maior que Copérnico na ciência ou a
Revolução Americana na política. Kant não é apenas importante por ter criado
uma nova síntese entre o empirismo e o racionalismo, mas também por ter destruído
a síntese clássica de Tomás de Aquino na sua teologia natural. O impasse entre
o empirismo e o racionalismo criara uma crise no cepticismo. Kant concorda com
os empiristas que o conhecimento vem pela experiência, mas igualmente afirma
que possuímos um conhecimento a priori.
O conhecimento começa com os “múltiplos sentidos” que recebem sensações e impressões,
que existe uma sinergia entre os sentidos e a mente, aquilo a que Kant chama de
“ intuições puras de espaço e tempo”. Sem elas os dados da experiência ou as
palavras para expressá-las nunca poderiam ser individualizados. É a mente que
dá a unidade à diversidade da experiência sensorial. Mas – e isto é deveras
importante para compreender o pensamento pós-moderno – não é simplesmente a
mente, mas a minha mente. Distinguindo o numenal do fenomenal em que o
conhecimento é limitado ao campo da experiência empírica (os sentidos múltiplos
são a pedra fundamental do conhecimento) e que o mundo fenomenal é o único que
experimentamos pela percepção sensorial, Kant afirma que este mundo fenomenal
não é real, mas que o nosso conhecimento é limitado a ele. Ao experimentá-lo
fazemo-lo através das nossas lentes das categorias do pensamento a priori. O mundo objectivo é percebido
por um sujeito pensador, isto é, como o líquido toma a forma do recipiente onde
ele é deitado assim a Verdade toma a forma das lentes através das quais ela é
vista. O Eu, assim como Deus, são colocados por Kant na esfera numenal, logo
fora do alcance dos nossos sentidos. Por isso não os poderemos conhecer na sua
totalidade, apenas parcialmente na medida em que os nossos sentidos cooperem
com as categorias da nossa mente. Assim, todo o conhecimento do mundo numenal é
suspeito. Deixa de haver um conhecimento absoluto passando a haver vários
consoante as categorias da mente década indivíduo. Nunca poderei saber o que as
coisas são em si, mas apenas o que elas são para mim. Esta forma de pensar abre
um precedente à anarquia intelectual e moral contemporâneas assim como à
religião puramente mística, interior e esotérica: a Verdade terá formas
diferentes dependendo das lentes através das quais ela é observada e a religião
pode preencher o espaço onde a mente e os sentidos não alcançam. Como para
Nietzsche segundo a sua famosa fórmula “não existem factos, apenas
interpretações”. Se o conhecimento nunca alcança a Verdade absoluta, se ela é
constantemente impelida de horizonte em horizonte sem nunca atingir um rochedo
sólido e definitivo, é porque o próprio real é um caos que em nada se assemelha
ao sistema harmonioso dos antigos, nem mesmo ao universo ainda menos
racionalizável dos modernos.
Impregnada destas filosofias e
profundamente dependente dos media, a
sociedade pós-moderna encontra-se numa encruzilhada moral e social semelhante
àquela em que os Renascentistas se encontraram também há uns séculos atrás. A
diferença reside nos meios tecnológicos actuais que dramaticamente encurtam as
distâncias e cujo domínio crescente pelas gigantes multinacionais significa que
uns quantos manatas, não sujeitos ao sufrágio do eleitorado, conseguem exercer
um poder enorme numa sociedade completamente dependente da informação. É que o
mundo é hoje muito mais interdependente que o era na época das Luzes e a
natureza da sociedade mundial também já não é a mesma. As consciências já não
se regem pelos mesmos princípios tradicionais que foram destronados pelo
Iluminismo. Vemos, por exemplo, um esbatimento contínuo do que tradicionalmente
se esperava dos sexos no Movimento feminista, na legalização dos casamentos
homossexuais, no alastramento da moda unissexo; nas tradicionais relações
parentais no seio da família em que a criança é, doravante, o “bom selvagem” ao
domicílio (Pete Sloterdijk), é ela que nos traz a Palavra essencial e que nos
guia a verdes pastos e a águas tranquilas, que em detrimento da sua fraqueza –
ou por causa dela – ela sabe muito mais que os adultos e está praticamente habilitada
a torna-se o pai dos seus pais, ou o educador dos seus educadores. Neste
reinado da ligeireza e da preponderância do capricho, da despreocupação e do
prazer sem custos temos “His Majesty the Baby”, aquele que antes tinha de ser
educado e que agora passou a educador. O facto é que não estamos meramente a
assistir ao confronto clássico de gerações, entre a juventude romântica e os
mais velhos realistas. Na verdade, o que chamamos de “realistas” pode já não o
ser, pois o código básico de comportamento que contém as regras básicas e
fundamentais da vida social mudou muito rapidamente. Assistimos à emergência de
um contra-código: novas regras sociais para uma nova vida construída sobre uma
desmassificação da sociedade, da economia, dos media, até do tempo em que a pontualidade, assim como a moralidade,
se torna situacional (Alvin Toffler). Mesmo na religião cristã clássica se
assiste a esta desmassificação. A ideia de um único padrão está a passar:
várias traduções da mesma Bíblia, ao “gosto do freguês”, as nossas opiniões
religiosas, assim como os nossos gostos, estão a tornar-se menos uniformes,
menos padronizados.
Importante é reter esta frase de
Anthony Giddens: “ Outras tradições, como as que têm a ver com a religião,
também estão a passar por transformações d e importância enorme. Um mundo de
tradições em desmoronamento alimenta o fundamentalismo”. Ele acredita que a batalha
do século XXI entre o fundamentalismo e a tolerância cosmopolita será ganha por
esta dado que a tolerância da diversidade cultural e democracia estão
intimamente relacionadas e que a democracia alastra pelo mundo globalizado
conforme acima explicado. Eu creio que se corre sérios riscos de, numa
sociedade caótica despida dos seus princípios e tradições morais e
civilizacionais, assistirmos a uma corrida a um chefe que nos traga novamente a
estabilidade. Não tem sido assim na História?
Está lançada a plataforma ideal
para o despontar de uma Nova Idade do Homem.
Esta sociedade cosmopolita global
ainda não se trata, pelo menos de momento, de uma ordem global conduzida nem
por uma vontade humana colectiva, nem por apenas um grupo (apesar da tendência
ser a última!). Ela emerge de uma forma anárquica, movida por uma mistura de
influências. Todavia, e apesar do Iluminismo ter querido romper com as
tradições religiosas ao desligar-se do passado religioso e supersticioso, a
modernização e a evolução tecnológica não conseguem fazer desaparecer
completamente as visões religiosas do mundo. As noções de Deus, destino, magia
e cosmologia continuam – e cada vez mais! – a ter o seu lugar. Não é
surpreendente que se assista a uma correria aos videntes, aos professores
Mambos, às feiras de espiritismo, ao Tarô, aos horóscopos, às novas tendências
evangélicas milagreiras. Nos mundo dos negócios é cada vez mais comum os
seminários intitulados de “Curso de Técnicas de Cura Emocional”, “Programação
Neuro-linguística”, “Emotional Freedom Techniques” de como atingir o equilíbrio
e a paz emocional de maneira a vender mais e melhor, desenvolvimento pessoal,
alívio e energia positiva. Kant fez em o seu trabalho. Na vida pessoal o indivíduo
prosterna-se doentiamente diante das técnicas da longevidade: fitness,
desporto, cremes para as rugas e para tudo o resto, operações estéticas e toda
uma panóplia de artigos e actos de modo a querer alcançar a Never Ending Story.
É curioso em como em plena era industrial, na época vitoriana, se tinha tanto
horror do sexo e só se falava de morte, enquanto que hoje se tem horror da
morte e só se fala de sexo. A moderna definição de valores está em consonância
com o panteísmo, ou filosofia da unidade, crescente típico da Nova Era.
Partindo do princípio que os valores emergem do Ser interior e que cada um de
nós é uma parte de Deus (panteísmo) não é correcto que esses mesmos valores
sejam impostos a partir do exterior. O que é que um deus pode impor sobre outro
deus? Se eu vejo o mundo através das minhas lentes quem é que tem o direito de
me impor as suas? A nova tendência educacional conduz à educação transpessoal ou
holista. Como a saúde transpessoal ou holista, ela pode dar e receber seja onde
for. Ela não tem necessidade de escolas, mas as escolas têm necessidade deles,
segundo crêem os adeptos desta Nova Era. O que os educadores agora querem é
conduzir o interior até ao exterior que é a expressão do EU – as mais altas
qualidades do indivíduo. O educador á não educa, mas apenas ajuda o educando a
“libertar” ou “despertar” o seu EU (o deus interior). Pressupõe-se que todo o
educando já possua todo o conhecimento e sabedoria. Apenas lhe falta a
utilizá-los pela meditação, pela visualização dirigida e outras técnicas místicas.
Assim, existe um valor
pressuposto para o conceito de definição de valores: não há verdades absolutas
e que todo e qualquer valor devem ser determinados de maneira subjectiva. Como
no desconstrucionismo de Jacques Derrida, conceito criado a partir dos
trabalhos dele nos anos 60 e que colocam em causa a possibilidade de construção
de significados linguísticos coerentes. Pela análise de uma série de textos
filosóficos e literários, Derrida demonstra que, desmontando o não-dito do
texto, as proposições não formuladas ou colocadas num nível inferior relativamente
ao significado privilegiado pelo texto, o texto diz coisas diferentes das que
diz, subvertendo as intenções significativas do autor, ou seja, a interpretação
depende do intérprete. Como a fé de Kierkegaard, o pai do existencialismo
cristão, que apenas é um salto do escuro, como o Indiana Jones na caverna do
tesouro, cuja filosofia repudia as verdades objectivas da filosofia de Hegel e
que o importante era encontrar a verdade “para MIM”. Para ele, a verdade é
subjectiva e a verdade só é verdade se for verdade para mim, ou seja, as verdades
realmente importantes são pessoais, só essas verdades são verdades “para MIM”.
Ou como para Sartre, o pai do existencialismo ateu, cuja máxima “a existência
precede a essência” significa que a existência humana é anterior ao seu
significado, que o Homem deve criar-se a si próprio, deve criar a sua natureza
ou essência, visto que ela não está dada a
priori. “Deus está morto!”, escrevia Nietzsche, o “pai espiritual” de
Sartre. É cada um de nós que deve escolher a forma de ser livres e
independentes. A anarquia moral está semeada e o terreno é propício para uma
nova ordem moral e universal.
A também denominada Era do
Aquário é caracterizada por uma busca de dois objectivos sociais principais: a
transformação pessoal e a transformação planetária. Para o primeiro estabelece-se
uma actividade "missionária"; para o segundo uma
"sociopolítica". Dada a visão monista e panteísta do mundo e que tal
aspecto deriva de experiências místicas, tal é exigido ao "novo
indivíduo" desta Era. Os movimentos religiosos místicos vários de origem
oriental que pululam na sociedade ocidental dominante, o surgir de movimentos
"verdes" cujo eixo de pensamento repousa sobre quatro pilares, a
saber, a ecologia, o pacifismo, o populismo e a responsabilidade social (embora
de origem da esquerda estes movimentos têm mais a ver com um desencanto da
sociedade actual que propriamente com uma filiação à ideologia de Marx), a
busca de uma certa imortalidade na estética e saúde pessoais são alguns
reflexos de uma orientação holista que culminará numa visão de uma comunidade
mundial unida: "nem à esquerda, nem à direita, mas para a frente!". A
Era do Aquário, ou do Espírito Santo, é essencialmente mística, não
anti-religiosa, mas anticristã. O holismo e a identificação do indivíduo com o
cosmos através de experiências místicas destronarão o Cristianismo clássico
sobre o qual a civilização ocidental foi forjada. O inclusivismo da Nova Era
exclui a exclusividade do Cristianismo. O existencialismo que permeia todo o
pensamento moderno exclui, igualmente, toda a existência de absolutos e de verdades
pressupostas. Através do channeling, o indivíduo da "nova raça"
criará os seus próprios absolutos, as suas próprias verdades. Nesta desorganização
moral e social, numa sociedade planetária misticamente unida, sem valores nem
Verdade, caberá aos jogadores de bastidores o manejar do vazio espiritual do
indivíduo da Nova Era, sedento de princípios. É sabido (e basta olhar para a
História) que as grandes crises sociais antecederam as piores ditaduras. A
diferença agora é que a próxima ditadura será global e fará das outras uma
brincadeira de crianças.
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