sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

10 considerações sobre a Igreja actual

Ninguém pode, em toda a honestidade, negar a realidade de uma crise na Igreja da Europa. O fechar os olhos à crise eclesiástica não é uma prova de amor, pois o verdadeiro amor não aceita cega e passivamente os defeitos do ser amado. Qualquer observador atento concorda que existe uma verdadeira perturbação na Igreja europeia. Como se manifesta esta crise?

1. A descristianização da Europa. “Deus está morto”, escreveu Nietzsche e é este o refrão que ecoa na existência de uma sociedade anestesiada pelo conforto, abundância e luxúria. O Paraíso tem-se tornado um subúrbio da grande cidade Terra e a existência terrestre tem sido a única realidade presente. A maior tarefa que o europeu emprega neste século XXI é de tornar esta existência o mais prazenteira possível. Todo o pensamento humano se tem tornado existencialista, todos os seus esforços se têm concentrado no melhoramento das condições da vida presente.
A Igreja tem ainda subsistido graças ao até agora respeito humano pelas instituições e monumentos religiosos e, em grande parte, também à força da inércia. Sobre o cristianismo ocidental paira a grande sombra da descristianização e do materialismo prático. Países inteiros têm esquecido as suas raízes culturais e têm substituído as cerimónias religiosas por cerimónias civis. A Europa vive uma época sem precedentes na sua História: milhões de cidadãos europeus não confessam nenhuma fé, não participam em nenhuma cerimónia religiosa e não possuem nenhum laço com nenhuma instituição eclesiástica. A democracia dos estados laicos prega a pluralidade e igualdade religiosas. Diante da sombra do Cristianismo fracassado novas ideologias ateias tão totalitárias e religiosas como o Cristianismo se levantam para o destronar.


2. Despopularização da Igreja. A igreja chamada cristã (Protestante ou Católica-romana) tem assistido ao descalabro da assistência aos seus serviços religiosos ordinários. Em França, Alemanha, Suíça, Holanda, Portugal, Espanha, Itália e mesmo no Reino Unido, países tradicionalmente protestantes e/ou católico-romanos, têm assistido a uma quebra drástica dos assistentes habituais aos serviços religiosos. Actualmente, uma igreja local com uma média de 40 pessoas é já considerada uma “igreja média”. As estatísticas eclesiásticas sublinham, com indulgência, o número “impressionante” de assistentes às grandes sessões solenes (inaugurações, aniversários, ajuntamentos protestantes ou católico-romanos). Falam muito menos do número de fiéis assíduos ao culto dominical. É, no entanto, neste culto que a vida da igreja se manifesta.

3. A Igreja como instituição cerimonial. Para a maior parte dos europeus a Igreja não é mais do que uma moldura que realça uma bela pintura. Cada um deles anseia colocar um pouco de solenidade nas grandes horas da sua existência: o nascimento, a passagem à idade adulta, o casamento, o funeral (até os aniversários já são celebrados como abertura do culto!). Estes eventos são, para todos os povos, o ponto de encontro entre a vida individual e social. O Homem é um “animal religioso” e os nossos concidadãos pagãos europeus não negam o dar um pouco de brilho aos seus acontecimentos pessoais e familiares. Parecendo mal marcar estes acontecimentos apenas com uma “jantarada” ou uma “almoçarada” não poderia faltar a bênção matrimonial, a apresentação das crianças na igreja, a cerimónia religiosa nos funerais. Os ministros das igrejas tornam-se mestres-de-cerimónias ao belo prazer dos ateus famosos que insistem a presença sagrada cujo monopólio pertence à Igreja. Ainda se se aproveitassem as cerimónias para a apresentação do Evangelho… Não! As crianças apresentadas são consideradas como novos membros da comunidade, os recém-casados são chamados de irmã e irmão em Cristo (apesar de nunca terem posto os pés na Igreja), em cada funeral se evoca o paraíso onde o querido irmão falecido está na companhia de Deus e seus anjos. Apesar de tudo são as cerimónias religiosas ainda uma trincheira de resistência ao escorraçar do Cristianismo na nossa Europa. Infelizmente, são defesas muito fracas que se virarão contra aquilo que supostamente representam.

4. A secularização no seio da Igreja. A diminuição numérica nas igrejas locais é alarmante, certamente, mas não seria catastrófica se o “remanescente” se mantivesse fiel às doutrinas e práticas nucleares do Cristianismo; se o pequeno rebanho de Deus se mantivesse ferverosamente ancorado ao Evangelho vivo do Deus vivo. Todavia, não há grande diferença entre o nosso tempo e os séculos precedentes. Apenas as máscaras caíram, as posições são agora mais claras e nítidas. A Igreja acolheu no seu seio práticas e doutrinas irreconciliáveis com a verdadeira fé cristã. As verdadeiras manifestações cristãs têm desaparecido ao ponto de se considerar que o maior perigo não vem de fora, mas de dentro da própria Igreja, o que sempre foi uma triste realidade. Frequentemente o maior argumento contra o Cristianismo são os próprios cristãos. A Igreja tem-se tornado no Mundo, Mundo cristão, mas definitivamente o velho Mundo. Ela tem-se tornado um local onde o descrente se sente à vontade, não desafiado nem confrontado. No lugar da Igreja, que muitas vezes de Igreja não tem nada, não fica o vazio, mas a pseudo-igreja, um disfarce de igreja. Um sucedâneo eclesiástico que guarda a forma, mas esvaziado de todo o conteúdo. Possui suficiente verniz para se parecer com qualquer coisa religiosamente viva mesmo se o Deus vivo não mais vive para ela.

5. Igreja de multidões. O multitudinismo, a mistura voluntária de crentes e descrentes dá o seu fruto amargo. Os membros destas “igrejas populares” são, na sua grande maioria, ainda-não-cristãos e estas organizações não são igrejas cristãs no verdadeiro sentido do termo. Ali é praticada uma religião sem decisão a favor ou contra Cristo, sem confronto com o pecado, sem o aviso de julgamento, sem o conhecimento das exigências da santidade sem a qual ninguém verá o Senhor, nem da função do crente no meio do mundo. Trata-se de uma tradição nacional onde os seus adeptos fazem parte do sistema unicamente através de uma cerimónia religiosa sem qualquer conteúdo pessoal. É uma indecisão institucionalizada.

6. Mundanização. Assim sendo, as igrejas não são nem vivas, nem numerosas. A fim de reter os poucos que ainda assistem regularmente – e na maior parte das vezes os nossos filhos com medo que vão para o “mundo” – os ministros são obrigados a fazer concessões cada vez mais numerosas. A Igreja exige cada vez menos dos seus membros e estes cada vez mais proíbem que se lhes imponham o que quer que seja, quer a nível de disciplina eclesiástica, quer a nível de confissão de fé que se torna assustadoramente mais vaga e generalista. Bares cristãos, concertos de música supostamente cristã, teatros cristãos, encontros de jovens com actividades alegadamente cristãs, conversas morais e sociais que substituem a pregação, desporto cristão, tudo serve para atrair as camadas mais jovens num esforço de rivalizar com o mundo. Neste fascínio doentio pela bitola de sucesso do mundo a Igreja corre desenfreada e sofregamente sem notar que parte para a corrida em clara desvantagem: os preconceitos que envolvem estas actividades mundano-seculares cujos travões morais lhes são impostos pela natureza e origem despem-nas de todo o engodo próprio às mesmas manifestações originadas no mundo. Neste particular a Igreja não tem a mínima hipótese. Mesmo que a corrida com o mundo acabasse empatada, cedo ou tarde a derrota manifestar-se-ia pelo abandono dos seduzidos pelo prazer de qualquer coisa idêntica, mas mais genuína, à qual a Igreja os iniciou. Quanto àqueles privados da palavra, eles abandonarão a Igreja cansados de esperar pela Verdade prometida, mas nunca apregoada.

7. Cristianismo Social. A igreja contemporânea insiste demasiado sobre a sua presença no mundo, as obras sociais, o seu papel cívico e político; ela se envaidece disso como que uma recente aquisição e faz desta característica como que uma distinção das seitas que se limitam à coisa religiosa. Não é curioso ver o nascimento deste cristianismo social coincidir com o evento do liberalismo e não confessaríamos nós que o evangelho social substituiu o próprio Evangelho? A tentação das igrejas é a substituição da evangelização pelo serviço. Agências pacifistas, operações de caridade, campos de trabalho, grupos de serviço voluntário e outras organizações similares brotam todos os anos nas instituições eclesiásticas queimando tempo, meios e energia. Não que o mal seja a caridade ao próximo e que os crentes não se devam preocupar com o estado social e humano dos seus concidadãos, mas é preocupante quando a vida da igreja se resume a estas actividades. Jesus era humano, não era um humanista. Um certo sentimento que já falámos muito de Deus e que agora devemos agir, o meio materialista que nos dá uma ideia exagerada das necessidades físicas do Homem e o empobrecimento espiritual gritante nas igrejas são, entre outras, razões pelas quais a igreja se engaja exageradamente no plano social. As boas acções sociais compensam, de certa maneira, a falta da evangelização. Falar das necessidades espirituais é embaraçoso para os crentes. Ficam mal vistos. Numa sociedade materialista e hedonista cuja necessidade primária é o aqui e o agora é antes descabido dar prioridade ao plano espiritual.

8. Enfraquecimento da mensagem. A Igreja é muito insegura na sua fé e na sua mensagem. A pregação e oração, o que Jesus mais praticava, estão sendo erradicadas da vida normal da Igreja e substituídas por “pensamentos” de moral misturada com misticismo, de discursos teológicos cujo sentido quase ninguém percebe, de reuniões de “louvor” onde o principal é o enaltecer os sentidos físicos e não o educar a mente e coração, de reuniões de ética e moral religiosa. A igreja cria segmentos de mercado (jovens, adultos, mães solteiras, drogados, alcoólicos, pais e filhos, netos e avós, empresários, solteiros, casados, namorados) a fim de poder apresentar sermões em reuniões de grupo de ajuda psico-espiritual, discursos encharcados de princípios de psicologia barata proferidos em linguagem e com termos bíblicos. Mas de Evangelho… nada. A Palavra da Cruz está ausente; do pecado não se fala; do inferno nem se pensa; arrependimento é contraproducente e psicologicamente danoso. Prega-se os frutos da santidade sem enaltecer a origem dela. A pregação poderosa e confrontadora agoniza com falta de pregadores ousados, viris e combativos.

9. Clericalismo e institucionalismo. Sentindo o terreno fugir debaixo dos seus pés, a Igreja reage com um endurecimento clerical e institucional. É o canto do cisne para a Igreja como grande potência autónoma. Sentindo o fim da sua influência a Igreja busca defender e consolidar a sua antiga posição. O clericalismo cresce desmesuradamente, em termos cada vez mais profissionalizantes e a Igreja torna-se uma igreja de pastores. Ela que deveria redescobrir o sacerdócio de todos os santos simplesmente passou ao lado dessa tarefa, de fazer dos seus leigos colaboradores espontâneos e conscientes das suas responsabilidades. Absorvidos na sua passividade, os crentes leigos apenas estão deitados na marquesa, como sobrevivendo a balões de soro.

10. O espalhamento dos crentes. Muitos procuram em comunidades para-eclesiásticas a comunhão que deveria existir na Igreja. Devido ao crescente egoísmo reinante e característico das sociedades materialistas a Igreja tem negligenciado o esforço de criar verdadeiras comunidades de indivíduos salvos e, sob pretexto da doutrina da “invisibilidades da verdadeira Igreja”, ela em vez de ser uma comunidade tem sido apenas uma poeira de indivíduos. Sardo e Laodiceia são dois exemplos bíblicos de igrejas locais tornadas em instituições sacramentais da salvação. As Tecnologias de Informação deram, igualmente, o golpe de misericórdia na fraca consolidação comunitária das igrejas. Fazendo downloads de mensagens cristãs em MP3, de livros em PDF e E-Books cristãos, de estar “perto” dos seus irmãos no Facebook ou numa qualquer sala de chat, de ter “evangelização” em apresentações de Powerpoint ou aconselhamento via correio electrónico, o crente moderno encontrou uma maneira cómoda de estar “perto” mesmo estando longe. Alegando estar numa espécie de “comunhão online” os crentes não sentem mais necessidade de comungar de facto com os seus irmãos em Cristo. Agem como se os requisitos para o crescimento espiritual fossem ter uma boa largura de banda e bons conhecimentos de informática na óptica do utilizador. A comunhão torna-se virtual.

Quais os remédios para a situação actual da Igreja?

1 comentário:

  1. Paz do Senhor amado irmão gostei muito do seu blog e passei a segui-lo. Convido você a nos visitar e se possivel nos seguir no http://luzevida123.blogspot.com/ Obrigado e Deus abençoe você e sua família.

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